Já o escrevi
por aqui: o vinho dito "de Pias" é uma praga. Empresas respeitáveis e
outras que nem isso lançaram mão da designação, sem qualquer controlo de
certificação, e comercializam vinho "de Pias" que é de todo o lado e,
presumivelmente, até mesmo feito sem uvas.
A
origem deste mal (escorado na ignorância dos consumidores) está na falta de
defesa da região. Como muitas outras, a região de Pias podia ter ficado
"certificada" e acabava-se a vigarice. Não foi o que aconteceu.
Uma das empresas de Pias (onde cheguei a ir comprar vinho nos anos 90, e era realmente bom) decidiu afirmar-se e, agora com o nome de Família Margaça, esboça um protesto no seu site.
Registe-se (embora não se resista: tarde
piaste!...):
Em 1976, por conta do PREC – Processo
Revolucionário em Curso e da Lei da Reforma Agrária, um grupo de camponeses
ocupou as propriedades da Sociedade Agrícola de Pias, passando esta conquista a
ser reconhecida como uma bandeira da revolução e um exemplo para um país que se
começava a erguer após o fim da ditadura. Chegavam autocarros de todo o lado
para testemunhar, na primeira pessoa, o sucesso destes homens. No regresso,
levam a memória de Pias em forma de garrafa, celebrando-a por todo o lado.
O país aprendeu a lembrar o
nome de Pias e passou a destacá-lo no mapa, gerando um verdadeiro fenómeno que
perduraria até aos dias de hoje.
Mais de quatro décadas
depois, a história repete-se e é feita uma nova ocupação – desta vez através da
apropriação industrial indevida da marca Pias, que é tomada e absorvida pelo
mercado. Nasciam, assim, centenas de marcas sob a mesma designação, muitas
vezes sem que a produção tivesse a sua origem na região ou, em casos mais
urgentes, no país. Sem oposição das entidades responsáveis, Pias passou a ser
território de ninguém e o seu vinho, lentamente, perdia a identidade.
Em 2020, a família Margaça recupera o fôlego e desenha uma nova
estratégia, reclamando a legitimidade da origem dos seus vinhos, os verdadeiros
vinhos de Pias. Nasce uma nova marca – os vinhos Família Margaça -, em
homenagem à família e às gentes da vila, e introduz-se um novo posicionamento e
imagem no mercado, com a missão de devolver a Pias o que é – e sempre foi – de
Pias.
Boa sorte!
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