segunda-feira, 8 de julho de 2019

Ler jornais já não é saber mais (57): o regresso da censura


Maria de Fátima Bonifácio é historiadora e professora doutorada, sendo investigadora-coordenadora do Instituto de Ciências Sociais (Universidade de Lisboa). Tem mais de uma dúzia de livros publicados. E tem direito a expressar a sua opinião, que é decerto bem fundamentada.
Publicou um artigo de opinião no matutino "Público". Quem manda neste jornal abriu-lhe as suas páginas, reconhecendo-lhe com certeza mérito suficiente para aí escrever.
O texto (aqui disponível) indignou uns leitores e terá suscitado a concordância de outros leitores. Eu li-o agora, achei-o interessante e relevante e uma opinião a ter em conta. Não vi nele insultos, desonra de alguém ou apelos à violência. 
Estranhamente, o director do "Público" resolveu tomar partido na (pequena) polémica. E de forma pública, condenando texto e autora e declarando-os "racistas". Deixando, no fim, o que parece ser uma ameaça: o "Público" vai vigiar mais os textos que lhe chegam. Ou seja, vai fazer uma verificação prévia que permita estribar uma decisão sobre a sua publicação. Ou seja, um exame prévio.
Em termos práticos, o que é insultuoso neste caso é a tomada de posição do director do "Público". Porque ela é feita contra a liberdade de imprensa, ressuscitando abertamente um mecanismo censório.
A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa permitem e estimulam a polémica. (E, já agora, a polémica vende jornais.) Quem discorda, diz de suas razões. Quem concorda, também o pode fazer. A democracia é isto. Ou melhor: era. 
Porque o "fascismo" não acabou em 25 de Abril de 1974. Está agora a ser recuperado, e sem subtilezas, pelas "esquerdas" que, directa e indirectamente, chegaram ao Governo.


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