quarta-feira, 7 de junho de 2017

Como o politicamente correcto está a matar a democracia


A nova censura

Às 22h08 de ontem, sábado, dia 3 de Junho de 2017, houve mais um atentado terrorista que, à hora em que escrevo, tinha provocado 7 mortos e 48 feridos. Algumas testemunhas ouviram os gritos dos atacantes a referirem-se a Alá. Às 00h25 a Polícia londrina informava ter-se tratado de um ataque terrorista.
Não sei a que horas fechará a edição diária do jornal “Público” mas não deve ser, decerto, antes da meia-noite. E, como em todos os jornais, haverá seguramente alguma margem horária, se houver notícias de última hora que o justifiquem.
Portanto, o “Público” poderia ter noticiado o atentado, como tal. Mas não o fez. O que fez, em vez disso, foi uma pérola do jornalismo dos nossos dias (ou, melhor, de um neojornalismo que está a substituir o jornalismo em Portugal): no canto inferior esquerdo da primeira página, publicou o título “Várias pessoas atropeladas e esfaqueadas em Londres” e o texto “Novo ataque no centro da capital britânica fez várias vítimas na Ponte de Londres e num mercado próximo”.
Talvez não haja melhor exemplo do que este para retratar uma realidade da imprensa portuguesa dos nossos dias: a omissão de informações relevantes para o conhecimento de um dado acontecimento por motivos. E as informações omitidas são deste género: um atentado terrorista não é um atentado terrorista, os seus autores não podem ser terroristas islâmicos, a relevância (cultura, religiosa ou social) da etnia não pode ser aludida (como acontece com incidentes em zonas suburbanas e rurais, em que as etnias africana e cigana dos envolvidos são silenciadas). Quem e pratica este tipo de atentado à liberdade de informação e de expressão parece invocar a necessidade de não ferir credos ou raças, de não contribuir para a segregação ou para o racismo. 
Mas a sonegação de informação não contribui para o esclarecimento da realidade.  É uma nova censura. Parcelar, voluntária, ainda não decretada pelo Estado. Mas um dia, se o “politicamente correcto” continuar a fazer escola, é onde chegaremos.
Se ainda houver jornais, claro. Porque, convenhamos, alguém vai comprar um jornal que informe menos (pela diferença de tempo mas também por sonegar informação) do que as televisões e a imprensa “on line”? Claro que não. E, se calhar, ainda bem.


O protofascismo

Há pouco tempo, tendo chegado à fila do supermercado com meia-dúzia de compras, fui interpelado pela empregada com um esforçado “Olhe, não se importa de dar prioridade?”. Ela apontou e eu vi a pessoa a que eu devia – por lei, já lá vamos – “dar prioridade”: uma jovem de vinte ou trinta anos com uma criança, que parecia ter talvez uns dois anos, num carrinho de bebé dos que parecem verdadeiros veículos de combate.
Cedi. A criatura, que eu já tinha visto a passear-se calmamente no supermercado, pagou as suas ou três compras, e passou. Sem olhar para mim, sem agradecer. Mas, talvez apanhada de surpresa, produziu um “Obrigada” contrariado quando eu a interpelei: “Ao menos, agradeça.”
A explicação de base para esta atitude está numa lei recente (Decreto-Lei n.º 58/2016, de 29 de Agosto), que define uma prioridade que é praticamente absoluta para todas as filas de espera. Abrange idosos, deficientes, grávidas e “‘Pessoa acompanhada de criança de colo’, aquela que se faça acompanhar de criança até aos dois anos de idade”: passa tudo à frente. Mesmo que a “criança de colo” venha tranquilamente instalada num carrinho que, para a pessoa que a traz, não exija mais do que o esforço de o empurrar.
A lei, como tantas vezes acontece quando se tenta legislar à pressão, é deficiente. Por que raio é que uma pessoa que empurra um carrinho com uma criança há de passar à frente dos outros? Está a ter de suportar o peso da criança?! 
Em termos racionais, esta lei deveria especificar a diferença entre transportar a criança em braços e transportá-la por meios mecânicos. Mas, como é apanágio da legislação portuguesa, isso iria dar origem a múltiplos diplomas que classificariam e certificariam os carrinhos de bebés e todos os seus acessórios. 
A democracia é caracterizada pela igualdade, em sentido mais lato ou mais restrito. Neste caso, cria-se uma elite de potenciais “deficientes” que precisam de uma lei para se imporem aos outros, num domínio onde seria suficiente usar critérios mínimos de boa educação e de cortesia social. E estas coisas, numa sociedade saudável, não precisam de decretos-leis.
Esta imposição do “politicamente correcto”, dando mais direitos a uns (por serem voluntária, temporária, contínua ou cirurgicamente) “diferentes” é um passo em direcção à fasciszação da nossa sociedade. 
Quando, na fila do supermercado, fui obrigado a ceder o lugar à mulher com a criança no carrinho, lembrei-me dos judeus ostracizados pelos arianos nazis: tinham sempre de ficar em segundo plano… se por acaso ainda estivessem vivos.

Sem comentários: