Uma tradução minha para a Elsinore (20|20).
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"Anatomia de um Soldado" é um livro admirável. É sobre a guerra e sobre quem a faz, num lado e no outro, sobre a morte e a vida, sobre a sobrevivência e a destruição.
Harry Parker, o autor, capitão inglês e filho de um oficial de carreira inglês, viveu a guerra e conta neste livro a sua experiência sob a forma de romance: Parker pisou um engenho explosivo improvisado e tudo mudou. Não morreu mas perdeu parte de si.
A narrativa é também admiravelmente construída: pela sobriedade da escrita, seca e atendo-se ao essencial; e pelo ponto de vista - quem conta a história são as dezenas de objectos que entram em contacto com o capitão, desde o momento em que se prepara para partir para a guerra (no Afeganistão ou no Iraque, não sendo identificado o teatro de operações) até ao último momento.
O relato é pungente, violento, por vezes brutal, comovente noutras passagens, discretamente triunfante quando a última batalha é vencida. E se aborda a guerra aborda também a condição militar.
Traduzi-o a lembrar-me não de outro romance que tivesse lido sobre a guerra mas de dois filmes: "E Deram-lhe uma Espingarda", de Dalton Trumbo (1971), e "A Grande Batalha", de Sam Peckinpah (1977). O primeiro é sobre a destruição causada pela guerra e o segundo é sobre o modo como os militares lidam com ela. Os dois filmes enfrentaram diversas incompreensões.
"Anatomia de um Soldado" ("Anatomy of a Soldier", grande título que a Elsinore felizmente manteve), só não será um clássico com a guerra por tema se o preconceito não o deixar.
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