Mário Nogueira (Fenprof) e o actual ministro da Educação: quem manda? |
Vi ontem, num telejornal, duas notícias em sequência: na primeira, uma professora queixava-se de andar há anos a ser colocada de escola em escola por todo o País, estando agora a trabalhar num café por não ter arranjado lugar numa escola; na outra, uma escola do interior estava fechada por faltar qualquer coisa.
Este tipo de notícia não é uma novidade. O que é uma novidade é a falta de uma presença habitual: a dos sindicatos dos professores.
No caso da escola fechada, é estranho não haver professores, pais ou figurantes a protestarem com cartazes; no caso da professora, é estranho não haver um enquadramento: quantos há nestas condições neste começo de ano lectivo? Se o Ministério da Educação é lento a dar essas informações, havia quem de imediato as possuía: os sindicatos. Só que, neste caso, também não há sindicatos.
A situação nas escolas do ensino básico e secundário não se alterou sensivelmente, para lá da suspensão dos exames e da questão dos manuais escolares mais ou menos emprestados e à condição.
O orçamento das escolas continua a ser pobre, há professores e candidatos a professores sem trabalho, a indisciplina continua, os professores não beneficiam de melhores condições de trabalho, as carreiras continuam congeladas. Só que… ninguém protesta. Ou, mais precisamente, os sindicatos não protestam. Melhor: já não protestam.
Os sindicatos saíram de cena, calaram-se. E porquê? Já não conseguem fazer nada, ou conseguiram alcançar os seus objectivos, favorecendo os seus associados?
Não é o caso. A única explicação é, no caso dos sindicatos dos professores, o facto de estarem a cumprir a agenda dos partidos do Governo (PS, PCP e BE). E a única bandeira com que poderão acenar é com os benefícios obtidos para a função pública. Só que um deles (o das 35 horas de trabalho) em nada favorece os professores. E o outro (a revalorização salarial) favorece, no curto prazo, mas seria mais benéfico o descongelamento das carreiras, pelo alcance que teria a médio e longo prazo.
O silêncio dos sindicatos dos professores revela desse modo a sua dependência dos partidos, nomeadamente do PCP e do BE. Os dois partidos prometeram a “paz social” ao PS e decretaram que os sindicatos, e não só na educação, devem calar-se.
Os associados dos sindicatos dos professores e a classe profissional que sempre disseram defender foram traídos.
A palavra é essa: traição. E os seus dirigentes são, simplesmente, traidores.
(Publicado no Tomate.)
Sem comentários:
Enviar um comentário