domingo, 16 de novembro de 2014

"Boss": o coração das trevas





Francis Underwood (o "herói" de "House of Cards") é um anjo, um paladino da verdade e da justiça. O seu único defeito será comer tiras de entrecosto grelhado à mão mas quem é que lhe poder atirar a primeira pedra?
Isto se o compararmos com Tom Kane, o presidente da Câmara Municipal de Chicago da malograda série televisiva "Boss".
Interpretada por Kalsey Grammer, "Boss" (que por acaso é anterior a "House of Cards") é uma incursão do realizador e produtor independente Gus Van Sant na televisão e uma história de política, crime, traição e manipulação de pessoas e da comunicação social.
Durou dois anos (2011-2012) e podia ter durado muito mais no relato das muitas maldades de Kane, que vive ameaçado por uma forma de demência que não é a explicação das suas acções. Não se compreende o fim prematuro que levou e que talvez seja explicado por uma quebra de audiências e pelo desinteresse com a produtora Starz encara os projectos que não são uma fonte imediata de receitas.
Se lhe desculparmos o excesso das sequências de sexo (a certa altura já nem sabemos quem é que anda a "comer" quem...) e alguma falta de subtileza no modo como Kane aparece de repente com soluções surpreendentes para situações em que parece estar à beira do abismo, "Boss" é a mais negra das séries televisivas "políticas", com "House of Cards" quase a pedir desculpa pelos excessos do seu protagonista e "Os Homens do Presidente" no canto oposto do espectro dos sentimentos de cariz político.


[Vi "Boss" numa edição em DVD (temporadas 1 e 2), da Lionsgate Home Entertainment UK, legitimamente adquirida.]

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