A luta política e o debate ideológico são uma coisa (e, às vezes, quanto mais vivos melhor) e os insultos e as ordinarices são outras. Mas o que se vê, no caso da visita de Estado da chanceler alemã a Portugal, é um desvario de insultos, de disparates e de ordinarices vindos de gente que, pela sua formação e até pelo contacto que mantêm com os mais variados públicos, deviam guardar algum recato de linguagem.
Angela Merkel é quem "assina" os cheques do empréstimo que o país todo pediu para, entre outras coisas, assegurar o funcionamento dos serviços públicos e do "Estado social" e os pagamentos das reformas, das prestações sociais e dos salários da função pública.
Grande parte do dinheiro que nos é emprestado é alemão e, no mínimo, é má educação cuspir na mão de quem empresta a Portugal o dinheiro de que o país necessita... e que beneficia todos aqueles que, como o funcionário público Francisco Louçã, chama "assaltante" à representante eleita de outro país com o qual Portugal mantém relações diplomáticas.
Mas, por outro lado, Angela Merkel é mulher, tem tendência para a obesidade, não veste bem e é um dos mais poderosos dirigentes políticos europeus (o que também é uma consequência do poder de um país que, num século, sobreviveu a duas guerras que devastaram o seu próprio território e absorveu na prática outro país e sem sobressaltos assinaláveis).
Também é isso que em grande medida a torna o alvo de gente que, noutras circunstâncias, se derramaria em uivos de protesto se visse uma mulher gorda e pouco bonita de cara a ser insultada... por ser gorda e pouco bonita de cara.
É significativo, entretanto, que essas mesmas criaturas vão poupando J. Sócrates, Teixeira dos Santos, Mário Soares e os outros iluminados socialistas que - com uma interrupção forçada de dois anos - governaram o país e desgovernaram o défice das contas públicas durante dezasseis anos quase consecutivos. Porque será?
Sem comentários:
Enviar um comentário