Comecemos pelos números:
Nas eleições para a Câmara Municipal de Caldas da Rainha realizadas em 2017, o PSD teve o mais fraco de todos os seus candidatos: Tinta Ferreira, um homem da burocracia camarária que acabara de fazer um primeiro mandato. Inábil, politicamente, e associado a obras urbanas desastrosas, Tinta Ferreira foi derrotado em 2021 e deu a vitória ao grupo Vamos Mudar (VM).
Em 2017, o PS era o partido que estava no Governo. Tinha o poder nacional, tranquilamente, nas suas mãos. Mas, nas eleições para a Câmara Municipal de Caldas da Rainha, teve só 5276 votos. E depois, entre 2017 e 2021 perdeu 2802 eleitores.
Será tentador dizer que o total dos 6500 votos perdidos pelo PSD e pelo PS entre 2017 e 2021 explicam a vitória do Vamos Mudar, em 2021, mas não tenho bases para fazer essa leitura.
Nas eleições realizadas no passado dia 12, o PSD conseguiu, em parte, recuperar a sua posição, embora o modo tardio como lançou a sua candidatura e entrou em campanha tenha contribuído para impedir a sua vitória.
O PS, no entanto, desistiu. Nem tentou. Desistiu desde o primeiro momento. E é quase embaraçoso ver como um partido nacional com implantação local desaparece e aceita submeter-se a um grupo que, sendo formalmente de cidadãos independentes, tem um funcionamento de partido. Ou, melhor, de seita. O VM chegou à fase final desta campanha a pedir um voto de fé cega ("acreditar") num indivíduo apresentado como um homem providencial. O seu comportamento foi, claramente, o de uma seita religiosa.
O PS, na sua submissão ao VM, parece ter conseguido agora um lugar na Câmara Municipal e mais alguns na Assembleia Municipal e em assembleias de freguesia. Mas é curto. E até é impossível saber se era essa a sua intenção, se o resultado correspondeu ao que os militantes do PS queriam alcançar, que contas é que fizeram. Como uma prostituta muda, o PS entrou calado na campanha, esteve ausente e saiu da campanha igualmente em silêncio.
E valeu a pena? Não.
O PS não pôde cantar vitória porque não a teve e, no seu silêncio, mostra uma clara vergonha de assumir a derrota do esquema em que se meteu: o acasalamento entre o VM e o PS devia ter conseguido, pelo menos, 11 511 votos e só relativamente a 2021. Mas não: esta estranha aliança ficou-se por 9460.
O VM e o PS não lucraram com o truque.
Na realidade, de 2021 para 2025, o VM e o PS perderam votos (e eleitores): 2055 votos.
Sem ligar ao silêncio embaraçado do PS, bem pode o VM fazer de conta, como o seu chefe proclamou, que tinha tido mais votos do que em 2021. Não teve. E nem se pode saber, por exemplo, de onde vieram os 9460 votantes do VM. Quantos eleitores do PS é que estiveram nestes 9460? Vergonha das vergonhas, o PS nem saberá.
O PS foi, nitidamente, pelo cano abaixo em Caldas da Rainha. Ou, então, anda escondido por ter vergonha do que fez e para ver se ninguém se lembra da asneira.
O que pensarão os socialistas de Caldas da Rainha? Se é que ainda os há, claro.
E, já agora, o que pensará o equívoco mentor desta desgraça, que foi António José Seguro? A derrota do PS de Caldas da Rainha também lhe é devida.

Sem comentários:
Enviar um comentário