sábado, 13 de setembro de 2025

Cordel de tretas: 2 mil "escritores"?!...

Na galeria de horrores da publicidade do YouTube há um anúncio especialmente irritante que tem, no entanto, um mérito singular: revela o que de mais mistificador existe no mundo sinistro das empresas ditas editoras que cobram a publicação de livros aos seus "autores".

É a Cordel d' Prata, que garante ser "uma editora com mais de 2000 escritores", arregimentando quem se julga capaz de escrever histórias e quem tem dinheiro para pagar a edição daquilo que escreve, com publicidade que dissimula o labirinto que conduz às "edições de autor" de novo tipo. A realidade está toda nos meandros do seu site.


Publicidade mistificadora


A prata, aqui, é falsa. É metal rasca. E o cordel é tecido de tretas. Qualquer empresa pode ser uma "editora" desde que publique... seja lá o que for, de livros a revistas, passando por folhetos de palavras cruzadas e panfletos publicitários ou outros. E... "escritores"? Um post no Facebook ou no Instagram serve de certificado?! 

Nunca fui adepto deste negócio em que quem escreve um livro pode tê-lo publicado desde que pague a edição, por mau que seja o texto que quer ver como glória da sua vida. Talvez sirva para publicações de circulação restrita, para familiares e/ou amigos, para apontamentos confessionais de outro natureza, para receitas culinárias muito pessoais. Mas como obra literária para venda ao público? Não!

As minhas principais objecções são estas: a potencial falta de critério que permite a edição de tudo o que o "escritor" queira, só porque é ele a pagar; e a degradação profissional do autor, que deve ser remunerado pelo que escreve.

Eu próprio, em duas fases da minha vida em que estive envolvido na gestão de empresas que podiam editar livros, podia ter publicado assim os meus romances. Mas nunca o quis fazer. E mesmo agora, como aconteceu com uma história social e politicamente irreverente que escrevi e que foi recusada por editoras a sério, não recorreria, como não recorrerei, a esta forma manhosa de lançar livros.

Não quero, com os meus onze romances publicados (por editoras a sério) e acreditando mesmo que está mais restrito o acesso dos verdadeiros escritores portugueses ao mercado livreiro, ser um "escritor" como estes, unidos por um cordel feito de tretas.




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