domingo, 8 de outubro de 2023

A hipocrisia oculta


Parece que há médicos a menos no SNS. Parece que há doentes a mais, ou, melhor dito, pessoas efectivamente doentes e pessoas que talvez estejam mesmo doentes. Parece que o dinheiro não chega. O que também parece, e realmente é, é que este governo e este primeiro-ministro existem desde 2016. Há sete anos. Os problemas do SNS não são de agora e sete anos teriam sido um período suficiente para os resolver.

Mas há, além disto tudo, um problema fundamental: uma atitude hipócrita que devia envergonhar os próprios médicos, os governantes e todos os outros decisores políticos.

Não nos esqueçamos de que, durante dois anos – 2020 e 2021 –, as doenças foram todas “proibidas” à excepção de uma: a covid-19.

Durante esses dois anos, o Governo e os médicos (que passaram a ter tempo para organizarem coreografias musicais nos hospitais vazios) fecharam, e deixaram fechar, o SNS a todas as pessoas que estavam doentes, que poderiam estar doentes e a quem teria sido necessário examinar para se saber se estariam mesmo doentes.

Durante esses dois anos só existiu uma doença: a covid-19, a doença que era causada pelo vírus SARS-CoV-2, responsável pela mais sobrevalorizada de todas as pandemias humanas. Tudo o resto ficou do lado de fora dos hospitais e dos serviços de saúde. O seu pessoal, elitista e iluminado, declarou-se adepto do “fique em casa”, sem problemas de consciência. Uns lucraram nas carteiras, sobretudo os fãs das vacinas milagrosas, e os outros lucraram com o reconhecimento dos políticos.

Nunca lhes ouvi dizer que a expulsão das pessoas dos seus serviços poderia fazer aumentar o número de doentes e de exames de diagnóstico nos anos seguintes. Armaram-se em "heróis" e foram promovidos como tal pelos governantes que agora criticam.

Acredito que, hoje, três anos depois da abominável idiotia dos confinamentos (que, numa sociedade verdadeiramente democrática, devia levar a julgamento políticos e “especialistas” por crimes menores mas praticados de forma reiterada), um dos males do SNS é esse: afluência em excesso de doentes e de potenciais doentes.

Podem faltar todas as reformas, pode faltar o dinheiro, podem faltar infraestruturas e condições remuneratórias para os profissionais (que não parecem queixar-se das remunerações do sector privado), podemos ter os governantes mais estupidamente incompetentes desde 1974, mas não podemos ignorar o erro que foi o fecho político dos serviços de saúde em 2020 e em 2021. De que foram cúmplices os médicos.


Que bom que foi não ter de aturar doentes




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