quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O monstro no armário

 

"Expresso", 11.10.2022

O caso dos abusos sexuais e da pedofilia na Casa Pia nunca ficou esclarecido e a condenação de meia-dúzia de acusados nunca serviu para se perceber se o foram, todos ou alguns, por terem feito aquilo de que foram acusados ou se estavam no sítio errado à hora errada.

O caso dos abusos sexuais e da pedofilia no seio da Igreja Católica e das suas entidades é tão grave como o do "processo Casa Pia" e só o facto de poder estar mais contido, e dentro de portas, é que talvez impeça o alastrar de suspeitas, rumores, informações consentidas e silenciadas e todo o tipo de manobras que rodearam os mistérios da Casa Pia e das redes de prostituição masculina em Portugal. 

Mas é evidente que esta situação tem tudo para poder ser uma espécie de "processo Casa Pia II" (e não me refiro ao segundo processo que, à época, ainda iria escalpelizar o que se passava no Parque Eduardo VII e as pessoas que o frequentavam... e que não chegou a avançar) e nota-se, nesta infeliz declaração do Presidente da República, o incómodo que sente.

Marcelo Rebelo de Sousa, primeira figura do Estado, especialista em leis, católico praticante e homem sem mulher, tem todos os motivos para recear o monstro que pode nascer da pedofilia clerical, por muito que a restante "nomenklatura" política e partidária e a imprensa obediente tenham medo de abrir as portas do armário...  


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