Estamos em guerra; não pode haver dúvidas sobre o rumo estabelecido pelo Governo; o Governo não sabe, mas dispõe de pessoas que são "peritos", que valem mais do que os que conhecem realmente a matéria; a imprensa só dá a versão oficial, talvez para não perturbar a união nacional; ouve-se apenas um dos lados e os jornalistas tomam partido.
É isto, não é?
E estou a referir-me à crise ucraniana?
Sim e não.
Porque isto que aqui escrevi, recordem-se, já tinha começado há mais de dois anos com a "pandemia do novo coronavírus" (a epidemia do vírus SARS-CoV-2, que passou a pandemia e que evoluiu, naturalmente, para endemia com a sua doença designada por covid-19).
Nessa altura, foi tudo apresentado como uma "guerra", valendo apenas as opiniões dos "peritos" que são matemáticos e geodésicos.
Afastaram-se os epidemiologistas e os virologistas, os governos decretaram o fecho das várias sociedades e medidas de cariz medieval, promoveram vacinas que iriam eliminar o vírus e/ou a doença e que hoje arrastam um lastro de dúvidas (e talvez por isso pouco de fala delas). Tivemos pregadores a ditarem o comportamentos das massas.
Ignorou-se a ciência em nome de uma "ciência" de cariz religioso (acreditar sem duvidar) e dogmático e as opiniões do "outro lado" foram ignoradas, desprezadas e combatidas... chegando-se ao ponto de perseguir os que chegaram a ser classificados como "negacionistas" (mesmo quando não negavam a existência da epidemia/pandemia/endemia) e a defender que nunca fossem tratados pelas estruturas de saúde.
O que hoje se passa, em torno da crise ucraniana, é o mesmo. E com contornos mais graves, na área de informação.
Há duas barreiras que fecham grande parte dos circuitos informativos. Por um lado, os canais de informação/comunicação social russos estão bloqueados, por outro, a imprensa está concentrada num dos lados, o do governo ucraniano. E as informações que não são as que saem do terreno, recolhidas directa ou indirectamente pelos jornalistas que aí se encontram, são fornecidas pelas estruturas do governo ucraniano e pelo próprio presidente ucraniano. As que provêm do lado russo são filtradas pela própria linguagem, com os habituais "alegados" e "alegadamente". Não há jornalistas de "cá" na frente russa e não se sabe, porque não o disseram, se tentaram ir para lá. E há aqueles que, saltando de indignação a cada ousadia verbal do Chega, bebem as informações da organização militar neonazi ucraniana conhecida como Regimento Azov.
Quem não se posiciona, publicamente, ao lado do governo de Kiev (que tem sabido usar as artes da comunicação, a começar pelo endeusamento do seu presidente) é considerado "putinista" ou adepto da Rússia. E os verdadeiros conhecedores das realidades militares e das particularidades dessa parte do mundo são insultados e caluniados publicamente.
Chegou-se, mais uma vez, ao "quem não é por nós é contra nós", a um fascismo opinativo que também se filia no politicamente correcto e no que pode ser designado por pensamento único: tudo o que se diz tem de estar sujeito a uma doutrina quase religiosa que só aceita uma única perspectiva, um pensamento de sentido único.
É por isso, com uma sensação agravada pela sujeição deste pobre povo aos ditames pseudocientíficos e às verdadeiras campanhas da comunicação social, que olho com alguma mágoa para o 25 de Abril, que hoje se comemora.
Serviu para quê, essa conquista da "liberdade"?
A Inquisição esteve activa em Portugal entre
1536 e 1821. Matou na fogueira 1379 pessoas e, nas masmorras, largas centenas.
Foram perseguidas e condenadas mais de 19 mil pessoas. Os 285 anos de acção da
Inquisição tiveram uma repercussão mais vasta do que parece, no domínio do
pensamento e da liberdade de expressão, e os 48 anos (de 1926 a 1974) de um
regime político autoritário que se definiu como Estado Novo deixaram uma
influência muito negativa na capacidade de pensar da população portuguesa.
Neste quadro, o 25 de Abril acaba por ser uma celebração do pensamento único: quem não é por nós é contra nós...
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