A paisagem do Norte alentejano vista do castelo de Marvão |
Do Alentejo, onde há quase trinta anos procurei segunda habitação antes de me interessar de vez pelo Oeste, gosto mais da sua zona norte, a que tem uma ligação directa com as Beiras. A paisagem é mais acidentada e agreste, os vinhos são mais poderosos e a gastronomia parece beneficiar dessa ligação beirã. E foi a ela que regressei, muitos anos depois.
Deslumbrante, a paisagem (e é vê-la, na sua imensidade, do alto do castelo de Marvão, para a perceber), apareceu-me ainda mais imponente, graças, também, ao alojamento que fui encontrar no Airbnb. Com a designação de Casa do Meio, fica numa espécie de vale em que de um lado está a visão de uma parede de rocha e, do outro, da sua vertente frondosa. A casa revelou-se simpática e bem decorada e equipada, numa quinta sossegada e com um pátio fechado, ideal para cães (e crianças).
Uma colina da Serra de São Mamede vista do pátio da casa do Meio |
Em quatro dias fui a Marvão (quase deserta e bem cuidada), Castelo de Vide e Portalegre. Falhou a deslocação a Espanha, a San Pedro de Alcantara, onde o restaurante El Convento, de boa memória. E de Portalegre não guardo grande memória, porque a cidade, tendo crescido, alargou-se e pareceu-me confusa. Mas valeu-me a Adega Cooperativa de Portalegre, com atendimento amável e correcto e preços jeitosos. As provas ficam para depois.
E se é visível a ausência de lojas, daquelas pequenas lojas onde se compram "souvenirs", produtos regionais ou curiosidades, talvez vítimas irrecuperáveis dos estúpidos confinamentos, não falharam os restaurantes.
Fui duas vezes ao Sever Grill (o restaurante do hotel do mesmo nome, em Portagem, fica para a próxima), onde comi bochechas grelhadas e Migas de Batata com Carne do Alguidar, tudo muito bom como uma entrada de cogumelos com ovos mexidos, e com um vinho tinto exclusivo, e igualmente bom, do enólogo Rui Reguinga. Fui ao discreto Ammaia, junto das ruínas romanas com o mesmo nome, em Santo António das Areias, e comi um bela Bacalhau Alourado no Azeite com um excelente vinho a jarro da Casa da Urra. Em Marvão comi tapas interessantes no restaurante Pirolito, que precisa de uma segunda visita para melhor apreciação.
E vi sombras, claro: as lojas que desapareceram (talvez tivessem tido de fechar para sempre, perdida a capacidade de funcionarem), o campo de golfe ao abandono e o friso de casas abandonadas numa colina cuja história, triste, me contaram noutros tempos. E as repugnantes máscaras, usadas de forma militante na rua, e de todas as maneiras: vi, à minha frente, um porcalhão espirrar e assoar-se ao nojento acessório, que nem sequer afastou do focinho.
Paranoia |
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