domingo, 16 de maio de 2021

Ler jornais já não é saber mais (108): circo com palhaços

Deparei-me ontem de manhã, no "Observador", com uma notícia de 673 palavras com o título "Presidente da República condena 'lamentável notícia' da Lusa e regista 'imediato pedido de desculpas' da agência".

Como o leitor poderá verificar (o link é este), a notícia é um feito extraordinário: não diz qual foi o objecto da "condenação" presidencial, e de mais um sortido de personagens que também são citadas no texto. É estranho que um órgão de informação esconda assim a matéria da notícia, mas devo pensar que é assim que agora deve ser.

Falhada a informação, pus-me à procura de elementos e fui ter ao jornal regional "Notícias da Maia" (aqui), onde finalmente me elucidei. Fiquei então a saber que numa notícia da agência Lusa, de 13 deste mês, o nome de uma deputada do PS aparece com "Preta" entre parênteses e que foi esse o motivo para a vaga de indignação que juntou uma legião de impolutas e anti-racistas criaturas, a quem só faltou a exigir a cabeça do criminoso que, nos alfobres da Lusa, "insultara" a deputada. (Estranhamente, a indignação presidencial não foi espevitada pelo facto de um secretário de Estado dizer que um programa de informação é "estrume", ou seja, merda.)

E se o putativo criminoso ainda tem a cabeça sobre os ombros, vai ser por pouco tempo, que na agência foram rápidos a mover-lhe um processo de averiguações. E com segundas intenções: apesar de o jornalista ser "de esquerda", como já me disseram, é quem acompanha mais de perto o Chega!. Portanto, a coisa foi claramente intencional. Só podia, não é?

Só que não terá sido esse o caso. O problema, também me disseram, terá resultado de um apontamento pessoal que não foi corrigido na notícia definitiva. Acontece a todos, e às vezes da pior maneira.

No meio deste verdadeiro circo, ficam ocultas outras figuras tristes que deviam fazer moderar o tom desproporcionadamente agressivo das notícias idiotas sobre as reacções idiotas.

O "Observador" e o "Expresso", que pretendem ser modelos de jornalismo impoluto e rigoroso, replicaram o erro da maneira mais acéfala e mais acrítica e só mais tarde o corrigiram. 

E o que publicaram foi isto:








E foram racistas? Ou estão, simplesmente, a fazer figura de palhaços neste circo de vaidades?




Sem comentários: