sábado, 22 de maio de 2021

A génese de "O Último Refúgio" (3): Shakespeare "et al."

 


Há quatro obras a que "O Último Refúgio" faz referência, directa e indirectamente. Não se pode dizer que tenham tido uma influência decisiva nesta história e não foram fonte de inspiração. Mas a narrativa alude-lhes. Duas delas têm direito a citação inicial, uma repercute-se na história em si e a quarta só muito mais tarde se me revelou.

Quando pensei num protagonista estrangeiro, defini-o como polícia e acabei por ir ter aos EUA e a Baltimore, a cidade onde se desenrola a história da série televisiva "The Wire" (2002 - 2008). Já tenho aqui escrito sobre ela e é, para mim, um dos momentos definidores da nova ficção televisiva do século XXI. Pensei em ir ao universo urbano de "The Wire" e pôr o meu protagonista, James Castello, em contacto com protagonistas de "The Wire". Mas havia dois problemas: a história de "The Wire" passa-se há vinte anos e a de "O Último Refúgio" no ano passado; por outro lado, teria de pedir autorização para usar alguma personagem da série e sem a certeza de a minha história poder ser publicada. Portanto, desisti, mas não sem deixar de citar uma das fabulosas personagens, Omar Little. O meu protagonista, James Castello, poderia usar a frase citada. 

A outra, e dela já falei, foi "I Am Legend", de Richard Matheson.

A terceira foi "Macbeth", de William Shakespeare. Algumas obras de Shakespeare interessaram-me, tive de estudar o autor no meu curso da Faculdade de Letras e houve algumas adaptações cinematográficas que retive. 

A primeira foi, precisamente, "Macbeth", na versão de Roman Polansky (1971). Recordo, também, "Júlio César" (1953), de Joseph Mankiewicz, com Marlon Brando e James Mason. Além de "Ran" (1985), o "Rei Lear", de Akira Kurosawa. E, noutro registo, a reinterpretação de "Hamlet" na série televisiva "Sons of Anarchy" (2008 - 2014). A ideia da associação a "Macbeth" começou pelas bruxas que dão o nome à Praia das Bruxas (no início, era só Praia da Bruxa) e que são um elemento sobrenatural muito bem tratado por Polanksy. E depois Maria DeMeira apareceu-me, um pouco, com traços de Lady Macbeth. Talvez o pudesse vir a ser, mais tarde, se os ventos lhe corressem de feição.

E, finalmente, ao passar em revista uma das últimas sequências de "O Último Refúgio", lembrei-me de um filme pouco recordado de Walter Hill: "Southern Comfort/Estado de Guerra" (1981). Walter Hill foi uma espécie de discípulo do grande Sam Peckinpah e "Southern Comfort", na sua modéstia, é quase perfeito. E quanto aos pormenores, remeto mesmo o leitor para "O Último Refúgio"...


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