"Público", hoje, na primeira página |
E, de repente, o polémico movimento #MeToo chegou a Portugal.
E não se pode dizer que tenha sido da melhor maneira.
Na quinta-feira da semana passada, a "Sábado" deu voz (e fotografia) a 17 mulheres que
denunciam o assédio sexual de que foram vítimas. Na sexta-feira, foi a vez do
"Expresso", que reduz a coisa a duas mulheres. Uma actriz tinha
inaugurado a campanha, agora seguem-se outras queixosas.
Os relatos, que não surpreendem, têm um ponto muito fraco: os abusadores e
assediadores ficam anónimos. Com ameaças veladas, claro, mas não se passa disso.
Até certo ponto, é compreensível: por um lado, poderá haver medo
(o segurança da portaria não assedia, o administrador assedia), e, por outro, a
consciência de uma impossibilidade. Se estamos a falar de situações que
envolvem duas pessoas, onde é que há testemunhas (ou provas) de que houve
assédio? O problema é tipo pescadinha-de-rabo-na-boca: sem nomes nem provas, de
que serve a denúncia pública? Alguém esperará que o possível perpetrador venha
a público pedir que o perdoem? Ou que, como aconteceu estupidamente nos EUA, o
pensamento dominante vá "matar" quem é denunciado sem provas?
Já depois disto, a "Sábado" voltou à questão. E, desta vez, de
uma forma completamente explícita. Joana Emídio Marques, jornalista, reproduz
um seu post do Facebook e conta agora com todos os pormenores um encontro que enquadra no
mesmo tipo de problema: em Novembro de 2012, acusa, foi assediada pelo editor Manuel
Alberto Valente (e cita, pela ausência de
Portugal, a sua mulher, Maria do Rosário Pedreira).
Manuel Alberto Valente reagiu com visível incómodo e alguma galhardia, ainda no Facebook, e remeteu a
questão para as instâncias judiciais. É onde tudo não pode deixar de ir parar, claro.
Só que, neste caso, Manuel Alberto Valente tem, à partida, uma vantagem. O
encontro que Joana Emídio Marques descreve foi a dois e a autora não poupa as
palavras. Mas não terá testemunhas do que aconteceu. O que escreve dá suficiente margem de
manobra ao seu acusado para a acusar, a ela, de difamação.
A coisa poderia ficar por aqui? Não, já não.
O "Público", hoje, chama a si a questão e faz notícia com chamada
de primeira página. É certo que o assunto é agora do foro público. Mas este
zelo também não deixa de contrastar com a cumplicidade do "Público" na ocultação de outro facto noticioso de muito
maior gravidade.
A polémica já trouxe a terreiro outros intervenientes: os que apoiam o editor e os que apoiam a jornalista. Como é habitual, vão-se desenrolando críticas e insinuações a respeito das falanges de apoio de cada uma das partes.
O que se seguirá? Haverá mais revelações? E nomes? Ou fica tudo por aqui, na tradicional mansidão "tuga"?
E, já agora, também teremos direito a saber dos assédios
dentro do mesmo sexo? Vá, que não haja discriminação "de género", sff!...
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