sábado, 18 de abril de 2020

Suborno

O Governo decidiu dar à imprensa escrita 15 milhões de euros. O dinheiro não é do Governo, nem do Estado. É nosso. É de quem me lê. É de todos nós. 
A crise que vivemos tornou mais evidente outra crise: a da imprensa. E esta não é de agora. Já vem de trás. 
A imprensa, de quem nela trabalha a quem nela manda, não soube adaptar-se aos novos tempos digitais. Perdeu interesse. Não soube distanciar-se do poder. Perdeu credibilidade. Perdeu compradores em banca e perdeu publicidade.
A situação agravou-se com o "fecho" do País. As empresas do sector não se limitaram a aproveitar a legislação geral, quiseram um tratamento de favor. 
E o Governo, no mesmo dia em que um dos grupos de comunicação social reduz os salários ao seu pessoal, oferece 15 milhões de euros. Da maneira mais hipócrita e mais idiota possível: em publicidade institucional. Ou seja, em comunicações do Governo sobre questões de saúde, por exemplo, ou outras. Os jornais e as revistas vão publicar comunicados oficiais. Para ser lidos por quem? Por quem já não os compra?!
Os 15 milhões vão tapar (alguns) buracos de tesouraria. 
Vão comprar (mais) alguns favores e (mais) algumas obediências. Mas não vão servir para mais do que isto. 
Têm todo o aspecto de um suborno: portem-se bem que talvez vos dê mais. 
São um suborno.
E, perante ele, talvez seja perfeitamente racional que cada contribuinte inteligente tenha este raciocínio: se já lá estão a meter o meu dinheiro, para que é que eu vou comprar jornais?!


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