terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

"Dark Corners", de Ruth Rendell: a sua última história

 
Ruth Rendell (1930 - 2015), baronesa, Lady Rendell of Babergh, simpatizante do Partido Trabalhista e autora de mais de 50 romances e diversos livros de contos e que a certa altura usou também o pseudónimo Barbara Vine, foi uma das melhores autoras de histórias policiais, se não mesmo a melhor, conjugando todas as tradições do género uma extensa e multifacetada descrição do quotidiano inglês em vários domínios.
Não há Agatha Christie, P. D. James ou outra, que a suplantem em Inglaterra e, no universo anglo-americano, só a americana Karin Slaughter merece encómios quase à medida.
Em Portugal, Ruth Rendell foi publicada com algum êxito mas, por motivos que terão a ver com algumas peculiaridades pouco recomendáveis do mundo editorial nacional, desapareceu do mercado português.
"Dark Corners", que só agora li, é o seu último romance, pertencente à fase em que o seu herói,  Wexford, se reformou, e em que começou a usar o seu próprio nome (já não Barbara Vine) para escrever histórias admiráveis que são verdadeiras crónicas sobre o quotidiano da sociedade inglesa num estilo descritivo com menos diálogos do que é habitual.
"Dark Corners" tem um herói sombrio e psicótico no meio de uma teia de gente falhada: um escritor também falhado que nem senhorio de parte do seu prédio consegue ser. E que, sendo responsável pela morte de uma actriz também falhada, assassina o inquilino que lhe descobriu a sua má acção. 
Sendo o seu último romance, "Dark Corners" faz pensar que a autora poderia não o ter dado por completo. Talvez lhe façam falta algumas particularidades do seu estilo, que mais se notam na descrição de ambientes.
A dúvida não invalida, no entanto, a qualidade (a sempre habitual qualidade) da escrita de Ruth Rendell e o que parece ser, aqui e ali, uma imperfeição não corrigida só torna mais sentida a sua ausência, que nem uma releitura das suas melhores obras compensa. 


 

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