Oscar Isaac e Carla Quevedo em "Show Me a Hero" |
Nos anos noventa, a cidade americana de Yonkers, no estado de Nova Iorque, viveu um conflito com a habitação social no seu centro. A população branca não queria a transferência de sectores da população negra e hispânica para as novas unidades de habitação social nos seus bairros mas havia uma decisão judicial que obrigava a Câmara Municipal a fazê-lo.
Coube ao jovem presidente Nick Wasicsko fazer com que a decisão começasse a ser cumprida. Foi um herói mas, como escreveu F. Scott Fitzgerald em "O Grande Gatsby", "mostrem-me um herói e eu escreverei uma tragédia".
E a história de Wasicsko é uma tragédia. Gostava demasiado da política e achava que podia fazer alguma coisa de útil por Yonkers.
Mas a questão da habitação social manchou-o para sempre. Era "tóxico", como agora se diz. As várias oposições que suscitou empurraram-no para um fim desesperado.
A sua história serviu para uma mini-série ("Show Me a Hero") que acabou de passar no canal de cabo TV Séries. O seu criador foi David Simon (para sempre famoso, e muito justamente, por "The Wire"), antigo jornalista e agora produtor de televisão e argumentista.
A série é um trabalho curioso. Tem uma vertente quase documental. O ritmo é calmo e seguro, sem sobressaltos, numa narrativa construída com precisão. É como uma reportagem friamente escrita mas sem perder o sentido do seu objecto. Nick Wasicsko (Oscar Isaac) é uma personagem que não empolga mas a tragédia em que mergulha mostra bem as suas limitações e as limitações do sistema que quis servir.
O olhar de David Simon, como também se viu na magnífica "Treme", mostra-se sempre atento às várias figuras, às personagens exemplares, aos quadros que parecem ilustrações secundárias e que depois se conjugam no final. Trágico para uns, feliz para outros.
"Show Me a Hero", um objecto estranho da HBO, é mais um dos bons exemplos do que pode ser e é a televisão dos nossos dias.
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