John Grisham é um bom contador de histórias e, de certa forma, cabe-lhe a fama (e o proveito) de ter sido o grande aperfeiçoador do "legal thriller", as histórias de crime(s) com advogados como principais protagonistas.
"Sycamore Row" ("A Herança", Bertrand Editora, 2014) talvez seja uma das suas melhores obras e, escrita com o desembaraço de quem sabe construir um mistério capaz de prender o leitor até um desfecho que só se revela nas últimas páginas, conta a história de um milionário branco do Sul que, suicidando-se, deixa tudo o que possui à empregada (negra, anda por cima), deserdando os filhos. Com um testamento de última hora, manuscrito e... que não parece ter uma explicação lógica, a não ser aquela em que toda a gente pensa: foi a empregada que o influenciou. E foi?
"Sycamore Row" não tem, no decorrer da narrativa, um crime ou uma acção ilegal (embora tenha havido um acontecimento histórico questionável...), mas a sua fluidez é simples e directa. E tem um advogado independente e ousado como herói.
Já "Gray Mountain" ("Os Segredos de Gray Mountain", Bertrand Editora, 2015) fica nos antípodas.
A história começa com uma jovem advogada despedida da grande empresa de advogados onde trabalha e que é atingida pela crise económica e financeira e que vai parar uma minúscula cidade da Virgínia, no coração das explorações de carvão.
Conhece casos de miséria e depois a destruição (da natureza e de seres humanos) levada a cabo pelas grandes empresas mineiras com o apoio das grandes firmes de advogados, um advogado morre numa estranha queda de avioneta e... Samantha Kofer fica em Brady ou volta para Manhattan?
O dilema da jovem Samantha é o que faz mover a narrativa mas Grisham não tem muito jeito para intimismos e perde as várias pontas de um novelo de crime e de mistério que verdadeira nunca se desata.
Se "Sycamore Row" é do melhor que já escreveu, "Grayu Mountain" não. Combinados os dois romances, fica o retrato de um romancista na sua encruzilhada.
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