Foi em Março deste ano, segundo uma acta da Câmara Municipal de Caldas da Rainha que pode ser lida aqui que a empresa New World Investments solicitou ao presidente da Câmara
Municipal de Caldas da Rainha a aprovação de uma minuta de carta de conforto,
"tendo em vista tornar mais célere junto da instituição bancária Investec Bank
London, o desenvolvimento do processo denominado Golf & SPA a expandir na
Foz do Arelho".
A acta não contém mais pormenores, registando apenas que “a Câmara
tomou conhecimento e, atendendo a que se trata de um investimento de maior interesse
para o concelho, deliberou aprovar os termos constantes na minuta de carta
de conforto".
É pena que, como acontece com a maior parte das coisas
que têm a ver com a gestão camarária, se passe como gato sobre brasas sobre
este “conforto” pedido pela empresa New World Investments.
Até porque convém que se saiba mais alguma coisa.
A New World Investments
e o presidente da Junta
Esta empresa, nascida na África do Sul como o banco
Investec, é representada em Portugal pela New World Investments (Portugal) –
Sociedade de Administração de Imóveis, uma sociedade anónima constituída em
Caldas da Rainha com o capital social de 208 mil euros (98 por cento do capital
da empresa é da New World Investments sul-africana) e sede no número 16, r/c
esquerdo, da Rua Engenheiro Duarte Pacheco em Caldas da Rainha, endereço que é
o do escritório do advogado Álvaro Baltazar Jerónimo.
Álvaro Baltazar Jerónimo foi, até há um ano, presidente da
Junta de Freguesia da Serra do Bouro e nunca achou que lhe ficasse mal ser, em
simultâneo, presidente da junta de freguesia de uma freguesia que era o alvo do
projecto de investimentos da New World Investments (e onde podia, e pode, haver
expropriações a favor desse projecto) e representante da mesma empresa.
O alvo da New World Investments eram 275 hectares que lhe foram "oferecidos" pelo Projecto de Pormenor
da Estrada Atlântica, que “nasceu” de uma alteração do Plano Director Municipal
aprovada sem votos contra pela Assembleia Municipal, permitindo a construção de um
empreendimento turístico em terreno, de paisagem protegida,
retirado às freguesias da Serra do Bouro e da Foz do Arelho, com um
investimento de 300 milhões de euros.
A decisão da Assembleia Municipal data de 2011 (e
nunca se viu, nem ouviu, nenhum dos membros da Assembleia Municipal a falar do
assunto...) e com a mesma New World Investments apareceu outra empresa, a
Claremont Costa de Prata Developments Lda.
Em três anos nada mais se soube (e também não houve
vozes públicas que fizessem perguntas, o que é muito estranho) mas circularam
informações segundo as quais os investidores não conseguiram reunir o capital
necessário, para lá, segundo se sabe, do que já tinham investido, pelo menos na
realização de alguns estudos.
A carta de conforto pedida à Camara Municipal sugere
que os promotores do empreendimento turístico estão a dar mais importância à
banca do que a outras possibilidades de investimento.
O que também não parece
garantir que o projecto (já apresentado em 2006 com a designação de Rainha Golf
e Spa Resort), a que se renderam há três anos os dinâmicos e discretos membros
da Assembleia Municipal, seja muito sólido.
Mas decerto que há-de haver alguém, entre os que
conhecem bem os bastidores deste caso, que possa dar explicações aos
caldenses...
*
O estranho caso do Plano de Pormenor da Estrada Atlântica serviu de inspiração para o meu romance "Morte com Vista para o Mar" (2013), que tomou por base a investigação feita por um bloguista anónimo sobre o assunto (que pode ser lida aqui).
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