Francis Underwood gostava imenso de comer tiras de entrecosto grelhado ao raiar do dia mas desistiu quando percebeu que isso seria um problema político. E eu, que sei onde se comem tiras de entrecosto tão boas como as do cozinheiro Freddy, compreendo o que lhe custa conservar o poder.
Underwood foi vice-presidente dos EUA e é agora seu presidente e é do Partido Democrata, de que foi líder parlamentar no Senado. É difícil encontrar um presidente norte-americano com quem seja parecido porque Underwood é na realidade mais parecido com Macbeth. E não apenas por via da mulher, Claire.
Josiah Bartlet é uma fusão de John Kennedy com Bill Clinton mas sem Marilyn Monroe nem Monica Lewinski.
Prémio Nobel da Economia, é o presidente do Partido Democrata que todos os americanos gostariam de ter. E foi ele quem abriu a porta a um presidente de uma minoria étnica. Não ao Barack Obama de raízes africanos mas ao Matt Santos de raízes mexicanas tão bem interpretado por Jimmy Smits.
Martin Sheen como Josiah "Jed" Bartlet em "Os Homens do Presidente" |
Kevin Spacey como Francis Underwood em "House of Cards" |
Francis Underwood é o grande herói (sinistro e malévolo, claro...) da série americana "House of Cards" (2013-, admirável "remake" de uma série inglesa), interpretado por um magnífico Kevin Spacey com Robin Wright, no papel de sua mulher, formando os dois o perfeito casal Macbeth da política contemporânea.
E Bartlet, numa das melhores composições de Martin Sheen, é o presidente da série "Os Homens do Presidente" ("The West Wing", 1999-2006).
As duas séries são, à sua maneira, momentos extraordinárioas de televisão. E ambas demonstram, como tantas outras séries de qualidade, o que é cada vez uma das grandes vantagens da televisão sobre o cinema: a possibilidade de contar, e desenvolver, uma história, com intérpretes, concepção, argumento e valores de produção ímpares.
"Os Homens do Presidente" é, naturalmente, mais clássico. A Casa Branca que a série retrata é quase um Olimpo. Mas talvez fosse necessário desenvolver uma história de recorte menos polémico que, de alguma forma, apresentasse ao país (e ao mundo, em mais uma expressão do "poder suave" americano definido por Joseph Nye) os meandros da alta política.
"House of Cards", por sua vez, é uma construção mais requintada e, em certa medida, uma versão da política americana à lupa de Shakespeare, o grande clássico da literatura inglesa, e de personagens tão imortais como o casal Macbeth e Ricardo III. O presidente que Underwood é um choninhas que só podia merecer a sorte que teve.
A segunda tenporada de "House of Cards" termina com Underwood na Presidência dos EUA. Sabe-se lá onde nos levará a terceira temporada, já anunciada para 2015.
Mas sabemos que Macbeth já chegou à liderança do "Mundo Livre"...
Sem comentários:
Enviar um comentário