O "Dia Europeu Sem Carros", ou "da Mobilidade", é uma falácia.
A ideia, já com uns quinze anos, quis fazer-nos crer que seria possível, nos nossos dias, libertar as comunidades humanas do transporte automóvel privado sem garantir transportes públicos adequados.
Excitou os ecologistas, parte da "esquerda" e todos os presidentes de câmara e seus apoderados que se pelam pelos eventos que lhes dão visibilidade.
Excitou os ecologistas, parte da "esquerda" e todos os presidentes de câmara e seus apoderados que se pelam pelos eventos que lhes dão visibilidade.
Lembro-me de alguns pormenores caricatos do primeiro "Dia sem Carros" em Lisboa.
Zonas centrais da cidade foram fechadas ao trânsito e, em consequência disso, as vias exteriores de acesso a Lisboa ficaram muito mais engarrafadas do que já era habitual. As pessoas perderam mais tempo no trânsito e a poluição deve ter-se agravado na periferia. Mas o que interessava era mostrar algumas avenidas de Lisboa livres de carros particulares.
A ideia de que a "mobilidade" só existe quando se proíbe o transporte particular sem garantir alternativas capazes cristalizou-se nos anos seguintes.
Meia dúzia de cerimónias públicas por esta altura de Setembro, algumas manifestações folclóricas e presidentes de câmara extasiados, como é seu timbre, perante as câmaras de televisão passaram a caracterizar o "Dia Europeu Sem Carros". Com eles têm alinhado o mesmo tipo de ecologistas que conseguiram este ano transformar os ciclistas em reis da estrada. Infelizmente, as aparências esfumam-se mas os disparates legislativos têm tendência a eternizar-se.
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A falácia ganha uma dimensão quase exemplar, este ano, em Caldas da Rainha.
A capital do concelho (uma cidade de dimensão modesta, sem grandes problemas de estacionamento e de trânsito habitualmente fluido) está devastada por uma série de obras que foram planeadas com o entusiasmo de um estratega militar que planeia um bombardeamento aéreo.
Há ruas onde a actividade comercial praticamente desapareceu, a circulação tornou-se por vezes muito difícil e há zonas fechadas e inacessíveis, mesmo a pé. E a obra mais importante de todas é um gigantesco parque de estacionamento subterrâneo onde se enterra uma fortuna que ficará subaproveitado e cuja construção rebentou com o núcleo central da cidade.
Promover numa cidade destruída e degradada um "Dia sem Carros", quando eles não podem circular, e uma "Semana da Mobilidade", quando quase ninguém consegue mover-se livremente, já não é só uma falácia. Promover isto num concelho onde só há transportes públicos adequados na sua capital e que, mesmo assim, não a cobrem por completo, é um insulto.
E é, também, mais uma manifestação do desprezo que os gestores da Câmara Municipal de Caldas da Rainha votam aos caldenses.
Pode ser que, na confusão da imobilidade caldense, haja mais alguns habitantes do concelho de Caldas da Rainha a perceberem o tipo de gente que compõe o PSD caldense e que elegeram há um ano.
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