Este blogue é um registo pessoal de impressões, comentários e opiniões do autor, na sua qualidade de cidadão, na forma de um diário privado que é, no entanto, de acesso público e livre. Este blogue não tem fins lucrativos e as apreciações do autor sobre acontecimentos, pessoas e iniciativas, sociais, culturais, políticas, comerciais, mediáticas e outras, são completamente independentes e pessoais.
Portanto... não se lembraram, se calhar? Têm falta de memória?
Ocupam-se do assunto há muito tempo, mas calhou um dia em que não repararam? Não se preocuparam, como é evidente, em pesquisar. Ou não quiseram. Daria muito trabalho, ou não serviria os seus propósitos? Iria fora da agenda? E quem manda protestaria?
Recuemos cinco meses. Em Fevereiro deste ano um canal do YouTube mostrou a montagem de uma rede numa estrada de Donetsk (antes na Ucrânia, agora na Rússia) que servia para proteger veículos e militares dos ataques dos drones ucranianos.
Foi, como outras, como os drones com cabos de fibra óptica, uma inovação surpreendente. Neste caso, por parte dos militares russos.
A Ucrânia, muito naturalmente, fez o mesmo. Nestas coisas não há exclusivos e deita-se mão ao que existe. Só que a aplicação do sistema das redes pelos militares ucranianos foi reconhecida por um dos órgãos de comunicação social oficiais, a CNN, como grande inovação. Cinco meses depois de já ter aparecido no campo de batalha.
E depois o "Observador", mais um fiel seguidor da agenda de Kiev, também foi banhar-se à mesma pocilga, com esta peça publicada em 5 de Agosto:
Não sendo a manobra das redes uma novidade, ficaria bem a quem escreve (ou a quem publica) lembrar que esta é uma das inovações desta guerra, onde as partes em confronto muitas vezes se imitam. Mas como, neste caso, a iniciativa foi russa... bem, já não se pode dizer.
Fazê-lo, no entanto, seria jornalismo. Coisa que isto não é. Ou, se é, é jornalismo inteiramente falhado. Daquele que, dando só as notícias potencialmente positivas para uma das partes (e não são as redes que impedem a inevitável derrota do regime de Kiev), mostra que só favorece essa parte, destacando tudo o que permita manter as aparências e sem querer saber (nem informar) mais.
Inevitavelmente, é na CNN de agenda única: os arsenais da Rússia estão "esgotados" e este país já só sobrevive graças à Coreia do Norte. A fonte é uma entidade ucraniana e com óbvio preconceito, a Escola de Economia de Kiev, mas que interessa? Quando há uma agenda para cumprir, a "verificação de factos" é supérflua.
Mas depois é a própria CNN que se contradiz, ao noticiar a existência de um "arsenal infindável". Isto em matéria de drones, e porque a informação não ficou secreta. Quanto ao resto, estará tudo "esgotado".
Apesar do "esgotamento", a CNN lá garante que a NATO até já sabe que a Rússia vai "atacar" dentro de ano e meio. A Rússia está "esgotada" mas vai "atacar". Ninguém nota nisto uma contradição?
Poderá haver quem ache isto rigor jornalítico. Mas atentem só nesta definição de rigor jornalístico:
"O rigor informativo e a garantia de isenção são duas obrigações do trabalho jornalístico, estreitamente associadas à qualidade, fiabilidade e credibilidade da informação. Uma informação rigorosa é aquela que tem o seu conteúdo ajustado à realidade e reduzido grau de indeterminação: quanto mais rigorosa a informação mais confiável será; ao invés, o erro, a imprecisão, a dúvida ou a distorção podem implicar uma diminuição da qualidade e credibilidade informativas. Para que seja isenta pressupõe um esforço de distanciamento, de neutralidade e de independência do órgão de comunicação social em relação ao acontecimento ou intervenientes que são objeto de cobertura informativa. Deve ser relatada de forma isenta, imparcial, com clareza, de forma completa e com o enquadramento e a contextualização necessários à sua compreensão."
Este texto não é de qualquer publicação russa ou norte-coreana, mas sim da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e da sua definição para "rigor informativo e isenção". Não se aplica à CNN tuga, como se pode ver.
Foi em Junho do ano passado que o ministro da Saúde do último governo do Partido Socialista anunciou que o novo hospital do Oeste seria construído no Bombarral.
Como as opiniões "técnicas" sobre o assunto validam todas as opções quanto à localização dessa estrutura, basta deitar contas aos resultados eleitorais do PS para perceber a opção do go erno do PS pelo Bombarral: em 2021, o PS ganhou as eleições de 2021 no Bombarral com 2602 votos (41,13 por cento), ficando o PSD em segundo lugar com 2416 votos (38,19 por cento). Mas em 2017 o PS tivera 3113 votos (48,94 por cento) e a coligação PSD/CDS apenas 2369 votos (37,24 por cento).
Se esta tendência de queda se confirmar, o PS pode perder as eleições de 2025 no Bombarral. E foi neste quadro que o novo hospital do Oeste terá sido visto como um trunfo fundamental para o PS do Bombarral manter a presidência da Câmara Municipal. Será, ou seria, uma luz ao fundo do túnel negro que o Oeste é para o PS.
E o PS do Oeste (que engloba o PS de Caldas da Rainha) apressou-se a "saudar" o anúncio feito pelo Governo e a "congratular-se" com a decisão.
Um ano depois, ao chegar ao poder, o PSD não se comprometeu com a localização para a construção do novo hospital. E, ainda, que se saiba, não há uma decisão tomada. Mas o PS, e logo pela voz do seu novo secretário-geral, José Luís Carneiro, retomar o tema e agarrou-se à posição do seu governo (de que, aliás, Carneiro fizera parte): o novo hospital tem mesmo de ir para o Bombarral.
E, em Caldas da Rainha, o que pensa o PS? Segue a posição do seu secretário-geral? Não se sabe.
Neste concelho, a opinião dominante parece ser a da reivindicação do novo hospital em Caldas da Rainha, ou nas suas fronteiras, e o presidente da Câmara Municipal, e chefe do partido Vamos Mudar, que volta a candidatar-se à câmara, tem feito desta posição uma espécie de bandeira. Sem bom senso, numa perspectiva isolacionista, com protestos de rua despropositados e tolos, mas, de qualquer modo, uma bandeira.
Há, portanto, uma divergência (e de fundo) entre o Vamos Mudar e o PS. Mas esta divergência não impediu que o Vamos Mudar e o PS se entendessem politicamente para apresentarem uma candidatura comum para as eleições autárquicas do próximo mês de Outubro. Até porque o objectivo da candidatura é, apenas, o de manterem o poder ou, no caso do PS, de ficar colado ao poder.
Perante isto, há uma pergunta que se impõe, sobretudo depois do que disse o secretário-geral do PS: como é que o Vamos Mudar e o PS se podem entender numa aliança para a Câmara Municipal quando um parceiro quer aqui o hospital e o outro quer o hospital noutro concelho?
É a pergunta que eu faço e que os eleitores e todas as restantes candidaturas deviam fazer.
O silêncio destes ansiosos pelo poder só confirmará que a aliança entre o PS e o Vamos Mudar não passa de um arranjinho oportunista e sem princípios para concentrar votos, movida pelas necessidades egoístas de cada um dos parceiros: o chefe do Vamos Mudar precisa, desesperadamente, de ficar na Câmara Municipal mais quatro anos e o PS precisa de sobreviver, pelo menos, mais quatro anos para os seus tristes activistas mostrarem que ainda estão vivos.
Carlos Branco: "Criou-se uma situação insustentável em que foram transpostas todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar. Foi um péssimo exemplo, um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser. "
No seguimento da hostilização a que foi sujeito por um jornalista da CNN, como registei aquie aqui, o major-general Carlos Branco tomou a decisão de, educadamente, mandar bardamerda a criatura e, de forma indirecta, a CNN. A estação televisiva podia ter corrigido a hostilização do entrevistado, mas optou por não o fazer.
Numa época em que quase toda a gente, como se dizia noutros tempos, dá o cu e cinco tostões para aparecer na televisão, a postura de Carlos Branco, que me honra poder ter como amigo, é de enaltecer. O resto, e os insultos que lhe fazem, faz parte da espuma dos dias.
*
Eis a declaração, na íntegra, do major-general Carlos Branco, retirada do Facebook:
No seguimento da minha “entrevista” com Pedro Bello Moraes (PBM), no dia 10 de julho, na CNN Portugal, pelas 13 horas, em que este ultrapassou todos os limites da ética e da deontologia jornalística, sem posteriormente se retratar ou admitir o erro pela sua prestação vergonhosa, não me restava outra alternativa que não fosse a de cessar a minha colaboração com a CNN Portugal. Ficou evidente uma assimetria de papéis que tem de ter consequências e que eu não posso consentir.
Criou-se uma situação insustentável em que foram transpostas todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar. Foi um péssimo exemplo, um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser. O desempenho medíocre e desastrado de PBM vai tornar-se num estudo de caso nas escolas de jornalismo, para se mostrar aos iniciados na carreira o que não se deve fazer, e como não se devem comportar quando se é ignorante e impreparado numa matéria.
O meu agradecimento ao Nuno Santos pelo convite que me fez há três anos para colaborar na análise do conflito ucraniano. A CNN foi pioneira em Portugal no convite a militares para analisarem/comentarem de forma continuada e sistemática situações de conflito, algo que já se fazia noutros países, em particular nos EUA, mas que foi mal recebido num meio que se julga “prá frentex” onde, infelizmente, ainda prevalece alguma inveja e provincianismo. Na altura, isso criou azia a muita gente. Primeiro estranhou-se, mas depois entranhou-se. Agora vários canais, copiando a CNN, recorrem a militares. O que há três anos era considerado, por alguns, um crime de lesa-pátria tornou-se normal, até mesmo incontornável para quem quiser estar no topo das audiências.
Gostaria de sublinhar que a CNN Portugal é a única cadeia de televisão que ainda permite diversidade de opiniões, num panorama nacional onde os laivos censórios se tornam cada vez mais evidentes, no qual se incluem os canais públicos. O pensamento não alinhado com a propaganda imposta pelo mainstream corre o risco de se tornar delito.
Desejo votos de sucesso à CNN Portugal e aos que nela trabalham com afinco, elevado profissionalismo e dedicação. Não confundo a CNN com a mediocridade de PBM, colocado em horários em que ninguém vê televisão. Os períodos da grande audiência estão destinados a jornalistas com menos de metade da sua experiência profissional, mas indiscutivelmente com mais talento, algo que manifestamente falta a PBM.
A ausência nesta fase do comentário televisivo não significa o abandono da análise dos acontecimentos, que continuarei a fazer noutras plataformas, lembrando sempre que há mais marés do que marinheiros.
*
Depois do seu corte com a CNN, que entretanto se remeteu a um silêncio de consciência pesada, Carlos Branco debruçou-se sobre a actuação do próprio jornalista, num texto intitulado "Quo vadis, ética e deontologia jornalística?" publicado no seu blogue Cortar a Direito.
O texto, que é uma análise incisiva do jornalismo praticado por um número considerável de jornalistas que agem como Pedro Bello Moraes, regista que o episódio revela "três temas incontornáveis relacionados com o comportamento profissional do jornalista em causa: a falta de ética, a duvidosa deontologia jornalística e a desonestidade intelectual". Extenso e bem argumentado, pertinente e certeiro, remeto para ele os meus leitores.
... que começaram as negociações entre o Vamos Mudar e o Partido Socialista, em Caldas da Rainha, para o Vamos Mudar manter a Câmara Municipal e o Partido Socialista não se extinguir:
No passado dia 10 de Julho, o jornalista Pedro Bello Moraes atacou verbalmente na CNN nacional em directo um dos comentadores convidados pela própria estação: o major-general Carlos Branco. Bello Moraes inquiriu Carlos Branco sobre assuntos da actualidade, depois não o deixou completar as respostas que o entrevistado queria dar, atribuiu-lhe afirmações que o entrevistado também não teve oportunidade de contraditar e, interrompendo-o sempre, acabou por terminar a emissão, abruptamente.
A situação, em nada compatível com o jornalismo televisivo, foi alvo de muitos comentários desfavoráveis para o jornalismo e para a CNN nacional e deu origem a queixas dirigidas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). A ERC inquiriu a CNN nacional, que se defendeu argumentando que o espaço do embate entre o seu pivô e o entrevistado era um espaço de comentário em que, basicamente, o entrevistador podia fazer o que quisesse.
No dia 17 de Julho, a ERC, não perfilhando por completo o argumento da CNN nacional, acabou por concluir que houve “prejuízo da separação de papéis entre a missão de informar e o direito de emissão de opinião”. Não se sabe o que poderá, ainda, dizer a CNN nacional, mas sabe-se que a ERC comunicou a queixa à Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, citando o n.º 1 do artigo 41.º do Código do Procedimento Administrativo, no que parece ser uma simples formalidade. Note-se, que na prática, nem a CCPJ nem o ainda existente Sindicato dos Jornalistas intervêm, habitualmente, neste tipo de conflito.
O vídeo, entretanto, desapareceu do canal A Nova Inquisição do YouTube com a informação de que foi “bloqueado” pela Televisão Independente (TVI, a “mãe” da CNN de cá), mas continua a poder ser encontrado no YouTube. A imagem junta foi retirada do vídeo agora bloqueado.
Ao bloquear o vídeo, a CNN parece estar a querer varrer o seu próprio lixo para debaixo da carpete, como se estivesse envergonhada. Andaria melhor se apresentasse um pedido de desculpas público ao visado (o convidado que foi atacado e que não pôde falar) e, desse modo, ao seu próprio público, impedido que foi de ouvir o convidado da própria CNN.
Eis um exemplo bem claro do significado
de atirar armas (e dinheiro) para o governo de Kiev num conflito em que o
pequeno país não consegue vencer o grande. E é apenas um exemplo de muitos.
Os EUA têm cerca de 5500 carros de
combate Abrams M1 e puseram 31 na Ucrânia. Iam servir para vencer o exército
russo. À Ucrânia já só lhe restam quatro Abrams e os restantes 27 foram
destruídos ou ficaram incapazes de funcionar.
Cada Abrams M1 custa, na sua
versão mais básica, cerca de 10 000 000 de dólares. Ou seja: nisto perderam-se
270 000 000 dólares. E para quê? Nenhum destes veículos (como nenhum dos outros, dos Gepard alemães aos aviões F-16) serviu para conter o avanço irreversível das forças russas e vários, muito danificados, acabaram expostos em Moscovo.
Imagens de fonte aberta de acesso público (Strana.Today).
É possível que a inexistência de um público activamente comprador de jornais explique a displiscência com que se fazem primeiras páginas na imprensa nacional. Elas são essenciais, numa situação normal (jornais sustentados por quem os compra e não pelos anunciantes, como acontece em Portugal), para atrair compradores e, com isso, garantir uma base de sustentação económica.
Se fosse essa a situação, teríamos uma primeira página como esta onde dois assuntos sem importância têm um destaque relativamente desmesurado?
Imagem de fonte aberta de acesso público.
Que interessa mais um "estudo", na realidade? Para este tipo de imprensa, tudo o que é "estudo" é importante. E se atribuir um qualquer efeito nefasto ao calor... mais importante é. Só se esqueceram, ou não houve espaço, de classificar o "calor" das enxaquecas como "extremo", como está na moda neste verão. Depreende-se que o ar condicionado é que é universalmente bom, de preferência com aparelhos comprados na Worten, que é da família.
Depois, qual é a relevância da profissão do "líder de grupo de extrema-direita"? E se o "líder" fosse contabilista? Ou cura? Ou tradutor? Ou pediatra? Ou proxeneta?... Todos os guarda-costas são maus, é isso?
A União Europeia é isto (numa caricatura tragicamente exemplar de autoria desconhecida): uma espécie de Estado falhado, comandado por dirigentes não eleitos com pés de barro e apoiados numa imensa burocracia de eunucos que os servem.
É um império como os impérios asiáticos de outrora, com uma democracia apenas formal, onde a simpática utilidade de uma estrutura vagamente federalista se perdeu.
Quem ganha são os dirigentes "has been", que receberam as sinecuras dos cargos de topo da União Europeia como finais dourados de carreiras políticas repugnantes, e essa massa amorfa de eunucos. E nós todos, em todos as regiões deste império, é que perdemos. E cada vez mais.
O "especialista" Uriã Fancelli é chamado frequentemente pela CNN tuga a pronunciar-se sobre o conflito na Ucrânia, sem que esta televisão esclareça o estatuto de dependência da criatura.
E acontece que o "especialista" Uriã Fancelli faz parte do "team" do jornal ucraniano "Kyev Independent", que já foi subsidiado pela agência norte-americana USAID e que é próximo do governo de Kiev.
Dito da maneira mais suave: a CNN, pelo menos, anda a enganar o público...
Imagens de fontes abertas de acesso público.
A respeito disto e bem explicado pelo major-general Carlos Branco aqui: "O avençado".
O problema da imprensa nacional está todo aqui: a tremenda discrepância entre a realidade e aquilo que a comunicação social nos diz que é a realidade.
É uma questão que não pode deixar de se reflectir na credibilidade da comunicação social nacional. Que se tem perdido neste período de 25 anos e que há de continuar a perder-se.
Uma ironia: o "DN", que nos últimos 25 anos, se afundou nesta espiral para evitar o apagamento inevitável, foi sempre o diário mais conformista do regime antes, durante e depois do 25 de Abril.
E a pergunta que agora se deve fazer é esta: como é que se pode acreditar na mentira que a imprensa nacional é?
O jovem Alex, connosco há oito meses, que descobri agora ser um Kleine Münsterländer, uma raça caçadora alemã pouco conhecida fora deste país, acabou por definir como seu um espaço de vigília debaixo de uma das buganvílias do jardim. Escavou, escavou e, parcialmente a coberto do calor do Verão, vai observando o que se passa ao seu redor. Eis uma originalidade, que eu ainda não tinha visto.
Eis uma novidade nesta pequena junção de jardim zoológico com jardim botânico em que vivo: uma borboleta de asas riscadas. É, diz-me o Google, uma borboleta-zebra (Iphiclides podalirius).
Vamos ao básico: que se espera de um jornalista quando entrevista uma pessoa para um órgão de comunicação social? Em primeiro lugar, espera-se que obtenha um esclarecimento sobre um assunto que tem interesse para o público, partindo do imprescindível ponto de vista de que a pessoa ouvida, ou entrevistada, tem conhecimento da matéria, em geral ou no particular.
Nesta circunstância, dos inquéritos de rua às grandes entrevistas com dirigentes de primeiro plano (políticos, ou de outras esferas), da recolha de declarações sobre assuntos de pequena e média importância à consulta sobre a opinião dos agora tão populares comentadores e "especialistas", só se pode esperar que o jornalista se remeta, modestamente, a um plano secundário e que deixe a outra pessoa falar.
Significa isto que o entrevistador deve, pelo menos durante a entrevista, omitir as suas próprias opiniões ou expressá-las, de modo cortês, sem nunca transfomar a entrevista numa discussão pessoal.
O entrevistado está a ser entrevistado porque a sua opinião é relevante. Se, por exemplo, o entrevistador pensa que o sal deve ser todo posto a olho quando começa a cozinhar um determinado prato e se o entrevistado é um cozinheiro experiente que prefere ir acrescentando sal ao seu cozinhado, verificando gradualmente o sabor, deverá perguntar "porquê": porque é que ele faz isso? O cozinheiro explica o que faz e o diálogo só prosseguirá, e sobre essa matéria específica, se restarem dúvidas bem estribadas sobre a opção do cozinheiro.
É simples e é uma regra antiga do jornalismo.
Não foi isso que aconteceu aqui, nesta lamentável exibição de um jornalista na CNN nacional:
Convém registar que o vídeo que primeiro circulou foi bloqueado por decisão da CNN/TVI:
O vídeo, no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=yI8iLcLLCh4&t=339
Como se pode ver, e ostensivamente, o jornalista (Pedro Bello Moraes) interrompeu, acometeu, contraditou e atribuiu afirmações, que foi sempre condenando, ao seu entrevistado (Carlos Branco, major-general do Exército português) sem lhe dar hipótese de falar e de se defender.
Voltando ao exemplo que dei, foi como se o entrevistador começasse a atacar o cozinheiro dizendo que ele defende que se atirasse o sal todo para o cozinhado logo à partida.
No fim, como se pode ver no vídeo, o entrevistador encerrou abruptamente a entrevista, cortou a palavra ao entrevistado ... e nem sequer o deixou comentar aquilo que lhe fora pedido que comentasse.
No vídeo percebe-se a estupefacção do seu entrevistado. Seria muito natural, pelas regras de experiência comum, que o major-general Carlos Branco lhe voltasse as costas e saísse do estúdio ou que tivesse algum gesto ou pronunciamento mais vivo. Mas Carlos Branco é, como se vê, uma pessoa bem-educada e cortês e, com a sua atitude, ao conter-se, teve um gesto de respeito para com o público.
É difícil perceber o comportamento de Bello Moaes. A CNN de cá tem, obviamente, uma agenda política, relativa à crise ucraniana, que reflecte fielmente as opções do governo ucraniano. Terá sido por isso? E, por causa disso, quem possa não estar de acordo é atacado de emboscada? Ou Bello Moraes agiu apenas sozinho, bem sabendo, porém, que estava a agir contra tudo o que a deontologia e a ética impõem (ou impunham e agora já não?) aos jornalistas.
Não o conheço, não tenho aqui à mão comentadores ou especialistas (em ética jornalística, boas maneiras ou psiquiatria, por exemplo) que me expliquem este comportamento, mas, dada a natureza pública da performance do entrevistador, tenho o direito, como espectador, de me interrogar sobre o que terá motivado o paroxismo da criatura:
-- Foi por obediência à agenda pró-ucraniana e anti-russa da empresa?
-- Foi embriaguês?
-- Foi algum desconforto físico ou emocional?
Se alguém tiver uma resposta, agradeço que ma envie para ela ser aqui publicada.
*
Já agora: a partir deste momento, qualquer pessoa que seja convidada pela CNN portuguesa para se pronunciar sobre o que for, ou para ser entrevistada, tem de temer que algum entrevistador mais assanhado a ataque, sem lhe dar oportunidade para se defender.
Porque o que aconteceu acaba por ser da responsabilidade da própria CNN e abrange todos, mas todos, os seus jornalistas.
Foi como se convidassem uma pessoa para ir lá jantar, lhe cuspissem na sopa e atirassem depois a sopa suja à cara dos restantes comensais.
Não sou fã do tradicional cozido à portuguesa, que, na sua mistura de carnes cozidas e, nos restaurantes, escassas couves, me faz pensar em dieta.
Mas aqui no restaurante Vale Velho, que não me canso de celebrar, encontro uma admirável variante: carnes gordas (incluindo os enchidos), couves, batatas e nabo num tacho que, ao lume, vai apurando o sabor das carnes cozidas. E este, sim, é um cozido à portuguesa que me entusiasma. Adequadamente acompanhado pelo vinho tinto Milharoz, de Santarém, que érobusto e saboroso.
Do escrito aqui reproduzido (um "post" no Facebook), de uma aguerrida ajudante-de-campo do presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha) só se pode inferir que a sua autora desconhece que toda a "fronteira" oeste do concelho de Caldas da Rainha é o Oceano Atlântico, que a capital do concelho está a menos de 10 quilómetros da costa e que o concelho tem um "destino de praia": a Foz do Arelho (e podemos até excluir a Lagoa de Óbidos).
Mas também não admira. A elite política de Caldas da Rainha tende a concentrar-se no seu próprio umbigo urbano (a capital do concelho), ignorando tudo o resto que compõe esta região, apesar do seu elevado potencial turistico. E o partido unipessoal do presidente, o Vamos Mudar, também não mudou isto.
Se quisermos evitar considerações de índole pessoal (o que devemos sempre fazer em política, apesar de...), temos de interpretar isto como uma expressão bem clara de que o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Vítor Marques, está com medo.
Está com medo do que lhe pode acontecer nas eleições autárquicas, já marcadas para Outubro, e só quer que as pessoas "promovam as suas qualidades". Só é pena que não diga quais são as "qualidades" que tem.
Marques, o chefe do partido unipessoal Vamos Mudar, nem sequer parece pedir opinião às dúzias de especialistas em comunicação que o servem (que lhe teriam decerto dito para não dizer uma coiaa destas). Porque ao fazê-lo, exacerbando um "orgulho" xenófobo e pedindo elogios, revela que não tem grande fé na sua própria vitória.
A notícia pode ser lida na íntegraaqui. Imagem de fonte aberta de acesso público.
As críticas, as queixas e as reclamações são processos naturais e, quando se referem a questões bem palpáveis do quotidiano, devem ser devidamente consideradas. O que eu tenho visto, desde as intervenções mais individuais à posição abertamente crítica do antigo presidente Fernando Costa, incide sobre esses aspectos concretos e eu próprio, crítico de Marques e da "sua" junta de freguesia da freguesia onde moro, tenho-me referido a eles. Até podia ir buscar outras coisas, mas não o faço...
Por outro lado, o ainda presidente da câmara está a esquecer-se de uma questão fundamental: uma boa parte da riqueza de Caldas da Rainha provém dos "estrangeiros" contra quem atira o "orgulho caldense": portugueses de outros concelhos e estrangeiros têm posto aqui o seu dinheiro e é desse dinheiro, até, que sai o salário municipal de Marques.
Os que não são "caldenses" e que vieram para este concelho, e que ainda continuam a vir, têm comprado casas e terrenos, carros e bens de consumo, têm criado empresas, têm contratado serviços de construção imobiliária e todos os outros, deixando o seu dinheiro em Caldas da Rainha, e pagando os eternos impostos que enchem os cofres da Câmara Municipal. E esperam que o seu dinheiro sirva para terem serviços públicos funcionais e não, por exemplo, para ser dado aos amigos "artistas" dos dirigentes municipais.
O ainda presidente da câmara conseguiu, até agora, fazer de conta que não reparava nas críticas que lhe eram, e são, feitas. As oposições, praticamente silenciosas fora dos períodos eleitorais, também o pouparam e, em alguns casos, nem se percebe porquê.
Com as coisas a correrem mal, com as eleições à porta e os políticos das oposições a despertarem (embora o PS se tenha deitado a dormir aos pés de Marques), o presidente da câmara estava à espera de quê? As campanhas que tem feito, e mesmo quando parece passar mais tempo em eventos públicos do que a trabalhar na Câmara Municipal, não o põem a salvo do meio mais directo que são as redes sociais.
Gouveia e Melo (com Rui Rio ao colo), Marques Mendes, Isidro de Morais Pereira, António José Segiuro, Sampaio da Nóvoa: os motivos para a minha abstenção nas eleições presidenciais de 2026 vão-se alargando e reforçando.
Por curiosidade, fiz no site do jornal económico "eco" uma pesquisa com "dispara" e o resultado foi este (que são só os primeiros títulos encontrados).