sábado, 4 de janeiro de 2025

Ler jornais já não é saber mais (231): quem é?

Com o destaque equivalente, num site, ao de uma primeira página, esta notícia é mais outra que revela o lamentável estado de mediocridade da imprensa nacional: o homem que é o objecto de notícia não tem nome. 

Foi ministro, não pertence a "grupinhos, a grupelhos", é açoriano. Mas não tem nome, para a CNN tuga (que publicou esta pérola). 



Mas tem nome, claro: chama-se Carlos Costa Neves. A CNN tuga, se calhar, não sabia...





quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Flores de estufa


O Inverno vai frio, mas... tão frio?! Gorros de lã, botas com pelo interior que parecem concebidas para andar na neve, capuzes bem apertados que mal deixam o nariz de fora e mesmo por cima dos bonés que parecem colados à cabeça e, até, frequentadoras de ginásio cuja indumentária tanto pode ser um pijama como um fato de treino, ambiguidade adequada para quem quer saltar da cama para o ginásio sem que pareça mal, protegidas de um frio que parece ser mais espiritual do que físico por meias de lã. 

É um panorama estranho que abrange todas as idades por igual, de adolescentes a séniores passando por camadas intermédias que não parecem ter ainda optado pela idade mental das pessoas adultas.

Está frio, claro, e sinto-o todas as manhãs quando abro a porta de casa aos cães para irem para o quintal, ainda o sol não nasceu, e depois quando os levo aos respectivos passeios matinais, numa escala que vai dos 5 ou 6 graus aos 10 ou pouco mais. Mas este frio vai ao ponto de me fazer vestir roupa que me parece mais adequadas para temperaturas negativas?!

No ginásio, nos treinos e nas aulas de pilates, mantenho o mesmo vestuário do ano todo (calção e camisola de alças, o que me deixa muito mais à vontade) e não concebo, sequer, que possa ter frio no decurso ou no fim do meu programa de exercícios que, sem grande esforço, servem para me equilibrar a temperatura do corpo. 

Ao ar livre, posso aproveitar o sol nos passeios que faço ou ficar, mesmo sem fazer nada, numa das zonas mais resguardadas do exterior da minha casa. E dentro de casa tenho a preocupação de manter uma temperatura adequada, com um sistema de aquecimento central baseado no uso de lenha. E se tiver frio... bem, aqueço-me.

Será a "pobreza energética" (um problema sério) a causa deste desvario energético de quem se enfeita com todos esses agasalhos e que vejo por aí como se andassem nos pólos? Ou querem apenas exibir roupa que nunca usarão nos climas mesmo mais frios, onde também nunca irão? Ou perderam a capacidade de se aquecerem?  

Parece uma cultura de débeis flores de estufa, este pobre gente...



quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Quinta da Fata: três confirmações e uma surpresa

Por mais curiosidades, ou tentações, que me apareçam ao caminho em matéria de vinhos, há uma região vinícola nacional que continua a reunir todas as minhas preferências: é o Dão, onde aprecio especialmente os vinhos tintos de recorte clássico, os que sempre me recordam os vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas dos anos 70 e que continuam a ser emblemáticos.

E no Dão há, para mim, uma referência que continua a ser essencial: a Quinta da Fata, em Vilar Seco, no concelho de Nelas. É nos seus vinhos que reencontro sempre o Dão em toda a sua plenitude. E é nessa propriedade que reencontro também a amizade e a grandeza de alma da sua família: Eurico do Amaral, Maria Cremilde e Rita. São pessoas extraordinárias que fazem vinhos extraordinários.

Se, neste ano, a minha peregrinação anual gastronómica, vínica e, em certa medida, espiritual, teve de ser encurtada, um conjunto de acasos fez-me visitar e revisitar quatro dos vinhos da Quinta da Fata há poucos dias, numa prova improvisada. 



Vamos aos pormenores:





O Conde de Vilar Seco teve, até agora, duas edições, com colheitas de 2010 e de 2015. E não foi de ânimo leve que abri uma das poucas garrafas que me restam, como foi o caso desta de 2010, a garrafa com o número 34 do lote de 50 "magnum" (1,5 litros) que foram engarrafadas com Touriga Nacional e com a distinção de "Garrafeira" . Por um lado, tinha uma grande curiosidade em ver como evolui (14 anos...); por outro lado, já sei que os vinhos da Quinta da Fata têm uma longevidade extraordinária (como ficou demonstrado com a prova de um tinto de 1958 há quatro anos, como aqui contei). Mas foi uma tentação a que não resisti. 

O resultado até comprovou que este vinho (que já nem está à venda) podia ter esperado mais anos em garrafa, porque estava perfeito. Magnífico, cheio de força, pleno de sabor e de aromas, este Conde de Vilar Seco estava longe de qualquer fase de envelhecimento que o pudesse debilitar. Absolutamente extraordinário.





Será arriscado dizer que, mais do que um "reserva" ou um "garrafeira", por exemplo, é o mais básico dos vinhos que revela o que de melhor existe num produtor, ou num terroir? 

Foi o que aqui encontrei, neste tinto "blend" de 2022, feito com as castas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro e Jaen. Já o conhecia, de o ter bebido na Primavera, e uma nova apreciação confirma as minhas impressões iniciais: este tinto de 2022 da Quinta da Fata é um belíssimo vinho do Dão. E um belíssimo vinho, em absoluto! 





Os brancos da Quinta da Fata, feitos apenas com a emblemática casta branca do Dão que é a Encruzado, são justificadamente famosos. E justificaram um aumento da propriedade e o alargamento do cultivo destas vinhas. O perfil tem tido ligeiras oscilações, mostrando que não é um vinho de laboratório sempre igual, mas este Encruzado de 2022, é perfeito, quer para acompanhar refeições quer como companhia de bons momentos fora da mesa.

Esta edição de um vinho branco que é extraordinário ainda não tem estágio em madeira, ao contrário do que sucedeu com a colheita de 2021, que foi engarrafada sem madeira e com madeira (com a designação de "cru"). 






E eis uma surpresa interessante: o segundo monocasta da Quinta da Fata, onde já reinava o monocasta de Touriga Nacional, a partir da casta Alfrocheiro. 

O Alfrocheiro de 2022 é um vinho tinto que parece afastar-se do padrão dos tintos clássicos da Quinta da Fata, com um sabor e aroma mais subtis, a exigir uma apreciação que respeite um período mais prolongado de descanso na garrafa. Sem a intensidade e a excepcionalidade dos outros tintos, este Alfrocheiro promete mais do que neste momento oferece. Vinho jovem, para todos os efeitos, já é, no entanto, uma boa companhia.