No ano passado, fiz três tentativas, em direcções diferentes, neste domínio.
Tentei reescrever uma história que tinha o seu grande começo em 1989, em Dresden, na antiga República Democrática Alemã, quando um militar da Stasi (a polícia política do regime) ajuda a salvar da fúria popular a delegação local do KGB depois da queda do Muro de Berlim. Na delegação do KGB estava o então major Vladimir Vladimirovich Putin e o encontro ficcionado entre os dois homens levava a que o alemão se torne espião ao serviço do agora presidente russo Putin. A acção, em grande parte, passava-se depois em Portugal. A história teve duas versões, mas foi rejeitada por uma editora com quem existia, e suponho que ainda existe, um bom relacionamento. Politicamente, a história seria inconveniente. Não tive paciência para a reformular. Mas quem a leu gostou.
Escrevi, e reescrevi, outra história, na sequência de "O Clube de Macau" (2007, que continua a ser o único romance sobre o "processo Casa Pia"), onde, vinte anos depois do insatisfatório julgamento do "processo Casa Pia", uni a pedofilia civil organizada, fomentada pelos que ficaram impunes no "processo Casa Pia", à pedofilia clerical contenporânea e numa escala muito abrangente. Esta nova história ("O Capítulo Negro") foi igualmente rejeitada. Pedofilia, Igreja Católica e o prazer levado ao ponto extremo do canibalismo como temas? Só dariam problemas. Mas quem a leu gostou.
Ainda comecei a escrever uma terceira história, onde entraria em cena a personagem do ex-KGB com o nome de guerra de Ulianov, contando uma parte da sua história passada e situando-o nos nossos dias e com uma nova actividade profissional. O título era "O Cozinheiro". Uma sucessão de várias circunstâncias difíceis acabou, no entanto, por me minar a disponibilidade para continuar a escrever e, apesar de regularmente receber mensagens sempre simpáticas de pessoas que vão descobrindo os meus livros, achei que devia parar e que não se justificava o esforço.
O mercado, tal como está, aberto à mais extraordinária mediocridade e fechado a quem não faz parte de uma pequena elite da aristocracia cultural, também não convida a investimentos. Por parte das editoras e, muito claramente, por parte de quem escreve por simples gosto. Além disso, os tempos não estão para heresias. E uma edição paga pelo próprio? Nunca.
Reformado como tradutor, depois de 14 anos de trabalho na área da tradução, reformo-me assim como escritor.
É possível que, um dia destes, pegue em "O Capítulo Negro", pelo menos, e, em formato ainda a definir (talvez um simples PDF), o ponha à disposição de quem o quiser ler, em oferta sem custos nenhuns para o leitor.
Mas disso ocupar-me-ei mais tarde. Por agora, fico por aqui e decreto um "the end". Mas não o meu "the end", em absoluto.
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