Não tenho como postulado que o cliente tem sempre razão. Mas entendo que o cliente deve ser tratado com cortesia e que, no caso de uma dúvida sobre um objecto desaparecido, não se justifica começar por, agressivamente, ameaçar o cliente com a Polícia. Mas foi o que me aconteceu numa empresa de limpeza de viaturas chamada Car Wash Viva. Por causa de um triângulo de sinalização!
Há poucos dias, o meu carro foi posto na Car Wash Viva, que funciona no interior do estacionamento subterrâneo do centro comercial La Vive, em Caldas da Rainha, para ser lavado e limpo por dentro. Tirei do interior tudo o que estava a mais e deixei apenas ficar dois objetos que vinham de origem: o triângulo de sinalização (que é obrigatório ter e manter no carro) e um "kit" para reparação de pneus. A eles juntou-se depois um saco com roupa lavada para ser engomada.
O carro veio limpo. Limpo e... "limpo". O triângulo de sinalização desaparecera. Telefonei para a Car Wash Viva e a reacção de quem me foi apresentado como "patrão" foi de estarrecer: eu tinha de ir lá pessoalmente para verificarem se o triângulo não estaria enfiado em qualquer sítio dentro do carro e, se o triângulo não existisse, chamariam a Polícia (presumo que a Polícia de Segurança Pública) para tirar dúvidas.
Não fujo a confrontos desta natureza e lá fui. Com uma atitude de extrema desconfiança, o "patrão" andou a mexer no interior do carro (nem sei como não quis abrir o motor...), mesmo em sítios impensáveis, e só lhe faltou querer meter as mãos nos meus bolsos para ver se eu não teria escondido o triângulo.
Depois levou-me a ver as filmagens de uma qualquer câmara de vídeo-vigilância, que grava tudo. Mas mal. Um homem tira as coisas do porta-bagagens e, mais tarde, põe-nas lá dentro. A bolsa do triângulo não é visível ou, se é, mal se dá por ela. Portanto, onde é que está?
Há a possibilidade de a bolsa ter sido enfiada no saco da roupa?, insiste o "patrão". E diz que vai ele próprio verificar isso à loja para onde foi a roupa (como se lhe fossem mostrar a roupa de um dos clientes!), e que depois iria comprar um triângulo e que mo levaria a casa. Sem intervenção da PSP?, apetece-me perguntar-lhe. Dá ideia de que, quando falou comigo pelo telefone, não percebeu, obviamente, o que lhe podia aparecer pela frente. Mas deve falar assim com toda a gente. À distância não custa nada ser fanfarrão.
No fim destas "investigações" que duraram mais de uma hora, o funcionário dele que andara a mexer no carro entra em cena e, num inglês arranhado, diz que meteu uma "bolsa azul" no saco da roupa! Quase ao mesmo tempo eu tenho a confirmação, por telefone e em resposta a um telefonema meu, da empresa onde a roupa foi deixada, de que o triângulo lá se encontrava.
Ou seja: o "patrão" devia ter inquirido directamente o seu funcionário. Em vez de desconfiar do que o cliente lhe dizia (terá pensado que eu queria mais um triângulo de sinalização?!), em vez de ameaçar com a Polícia, em vez de querer mostrar a filmagem, em vez de se mostrar arrogante.
Quando falei com ele ao telefone, antes de lhe ouvir a ameaça de chamar a Polícia e depois de o ouvir dizer que queria inspeccionar o meu carro (deve pensar que todos os seus clientes, além de potenciais burlões que querem coleccionar triângulos de sinalização, são estúpidos e não conhecem os próprios carros...), avisei-o de que, se eu tivesse de lá ir, a coisa lhe ia correr mal.
E correu, claro. Fica com esta nota negativa no seu cadastro, perdendo dois clientes (ou seja, dois carros) e com uma avaliação igualmente negativa no Google. Quanto a mim, descontada a maçada de ter de ir lidar com parvoíces deste calibre, até já descobri outro sítio onde me parece que serei muito melhor atendido. Aqui é que nunca mais.
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"Ó sô guarda, venha cá que 'tá aqui um cliente insatisfeito!" |