Houve uma época em que, na imprensa escrita, o pluralismo de opiniões e a separação clara entre a opinião e a notícia eram valores a preservar.
Foi uma época em que a maior parte dos jornais existentes se encostou, ou nasceu de, sectores políticos e partidários bem claros e em que, por rejeição do público comprador de jornais ou por opção dos próprios, os casos mais extremos acabaram por desaparecer.
Os exemplos não faltam: "o diário" (criado pelo PCP); "o jornal" (onde se cristalizou uma corrente política que, à luz de hoje, se poderia caracterizar por favorável ao PS e ao BE e a sectores militares vagamente de esquerda); "A Luta" (do PS); "Tempo" (muito ligado a sectores do PSD); "Semanário" (PSD e CDS). Nenhum sobreviveu.
A opção pluralista morreu. Foi morrendo, a pouco e pouco, graças a uma combinação de factores tão diversos como o afastamento dos jornalistas mais velhos, a entrada de uma geração com simpatias bem claras pelo PS e pelo BE e muito dada às "causas" ou a criação de projectos de base jornalística para promover pessoas e correntes de opinião.
Não há excepções na imprensa do "mainstream" e mesmo um meio de comunicação que parece muito liberal em matéria de pontos de vista, como o santarrão "Expresso", revela a sua ausência de pluralismo: não se lhe conhece uma matéria que não seja simpática para com o governo de Kiev na actual crise ucraniana, nem se recorda uma matéria que pusesse em causa as orientações nada "científicas" do Governo contra o vírus SARS-CoV-2.
Este estreitamento de pontos de vista desenvolveu-se acentuadamente na época da troika (contra o governo PSD/CDS), floresceu com a "geringonça", cristalizou-se no combate às "bêtes noirs" da moda (Angela Merkel, Donald Trump, Jair Bolsonaro... e agora a italiana Giorgia Meloni), consolidou-se nos anos de chumbo dos confinamentos (2020 e 2021) com o pretexto da ex-pandemia ... e atingiu um apogeu orgástico com a crise ucraniana. Raciocinar ou debater fora destes limites acaba por ser proibido.
Nisto, o "Público", como se fosse um "o diário" de novo tipo, está, nitidamente, na vanguarda. Aliás, o "Público" é um caso paradigmático.
Nasceu de um grupo de distribuição comercial, continua a ser suportado pelos mesmos financiadores por muito dinheiro que perca, enche-se de pruridos sem o brilhantismo que a certa altura o caracterizou e serve os interesses de alguns que já não encontrarão trabalho noutros meios e, como instrumento de presumido prestígio, dos seus patrões da Sonae.
Vejam-se estes dois exemplos seus, relativos a duas "causas" queridas do pensamento único:
A opinião sobrepõe-se à notícia: os referendos citados são desde logo classificados como "pretensos", "fictícios" e "supostos". |
No que se refere, ainda, à crise ucraniana, o fim do pluralismo e a imposição de um dogma e de um pensamento único são objecto de afirmação diária pelo "Observador". Vejam-se estes mimos: não há parte contrária, só prevalece o ponto de vista do presidente do governo de Kiev:
O enlevo pelo governo de Kiev e pelo seu presidente vai a um ponto tal que é legítimo ao céptico interrogar-se se, além da identidade doutrinária com o ex-comediante, o "Observador" é movido por algo mais vulgar.
Se o governo de Kiev soube afirmar-se pela comunicação política, também saberá que a comunicação política exige, por vezes, mais do que o simples "lobbying" e que é necessário contratar empresas especializadas e gastar dinheiro, de forma directa ou indirecta, a comprar favores noticiosos.
Será o "Observador" um beneficiário do investimento do governo de Kiev na catequização da opinião pública?
No mundo pantanoso da imprensa dos nossos dias, todas as suspeitas e todas as desconfianças são mais do que legítimas.
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