terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Irrelevância



Nem é necessário abrir o jornal. A capa, com o título que a fotografia transforma em manchete, diz tudo: "Caldense vai às escolas falar sobre violência doméstica".
Na fotografia, sem legenda, estão três jovens do sexo feminino. Não têm nome, não se sabe quem são, onde é o cenário, o que fazem além de "falarem" da "violência doméstica". Uma delas, supõe-se, é a "caldense". Ou seja, a natural (ou residente, como já vi) do concelho de Caldas da Rainha. O nome? A substância da sua "fala"? Que interessa? O que interessa é que seja "caldense". As outras duas nem interessam, pois, depreende-se, nem serão "caldenses".
O semanário "Gazeta das Caldas" deu um trambolhão. Era um jornal inteligente, coisa que nem sempre é compatível. Hoje já não é. Cedeu a este populismo (sim, uso adequadamente o palavrão) mais básico de que tudo o que é "caldense" é bom, seja lá o que for, ou quem for. É uma nivelação por baixo. O "caldense" mais idiota, mais escroque ou vigarista é tão bom como um "caldense" que ganhe um prémio Nobel. O que interessa é a condição de "caldense".
Se Lisboa é de um provincianismo atroz, relativamente ao resto do país, as pequenas cidades do interior que são capitais de concelho e onde ainda há vestígios de vida inteligente tendem a ser piores, muito piores.
Divergências editoriais, penúria, quebra de vendas e de audiências, cansaço? Tudo isto ou só uma parte? Por estes ou outros motivos, a "Gazeta das Caldas" está a tornar-se rapidamente irrelevante. Abria este jornal com curiosidade, folheio-a agora com fastio. Quando daqui a cinco meses tiver de renovar a assinatura… renovo-a? Ou não? Não sei. 
Porque eu não quero notícias sobre "caldenses" sem nome. Quero notícias, e outras matérias, sobre pessoas com nome e actos e acções e mérito, sobre acontecimentos e também opiniões. Como a "Gazeta das Caldas" já teve. Esta irrelevância de agora não me serve.


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