A sabedoria convencional
diz-nos que no Verão há mais apetência pelo vinho branco. É um bom contraponto
ao calor porque se deverá beber bem frio. E tendo, à partida, menor graduação
do que o vinho tinto, transmitirá a imagem de uma bebida mais próxima do conceito
de “refresco”. É uma perspetiva de onde nasce, e onde se cultiva, o chamado
“branco de esplanada”, consumido fora da refeição, oferecido a consumidores (e
consumidoras) pouco exigentes.
Mas o vinho branco é muito
mais do que isto e, salvo casos quase excepcionais de proezas enológicas,
dificilmente se encontrará exemplo melhor do que os vinhos brancos do Dão, que
têm como matéria-prima fundamental a casta branca Encruzado.
A generalização é importante
(a região do Dão é especialmente conhecida pelos seus tintos), mas há que fazer
uma ressalva: já tenho encontrado brancos do Dão que são, e da pior maneira,
“universais”: tanto podem ser alentejanos como durienses, no tal padrão dos
“brancos de esplanada”. Sem cor, afogados no frio e castrados por padrões
comerciais e de moda.
A casta Encruzado vale por si,
mas também se harmoniza bem com outras castas brancas. Tem uma capacidade de
envelhecimento notável e uma versatilidade absoluta: pode ser bebida num
ambiente social e fora da refeição e as suas peculiaridades farão mais tarde
recordar com agrado pessoas e ambientes; pode acompanhar bem alguns pratos de
carne e queijos; o aroma e o sabor são distintos. E não deve ser bebida
demasiado fria, porque isso só servirá para lhe cabo do aroma e do sabor.
A casta Encruzado, no
entanto, não é elitista e dá-se bem com outras, sem precisar de perder a sua
individualidade. É um risco fazer experiências, como atrás salientei, neste
domínio. Mas, sem referências actuais, já bebi brancos admiráveis que eram o
produto de várias castas, na Quinta do Escudial (em Vodra, Seia) e na Quinta da
Espinhosa (em Vila Nova de Tázem, Gouveia). Acredito que os seus produtos,
actualmente, não serão uma decepção.
Num outro patamar, a Adega Cooperativa
de Penalva do Castelo tem mantido um branco corrente que é também muito bom e a
mesma qualidade se encontra no vinho branco da Adega Cooperativa de Silgueiros,
que os supermercados Pingo Doce comercializam com marca própria (e a que aqui
já me referi).
Todos estes vinhos estão bem
à mesa e na “esplanada” e, note-se, e onde for possível, bastando um balde com
gelo e uma abertura antecipada para os valorizar e um copo que os deixe
respirar.
E o Encruzado? Os melhores
brancos só de Encruzado que tenho encontrado são os da Quinta da Fata (em Vilar
Seco, Nelas). A casta Encruzado não estava entre os primeiros vinhos que saíram
desta quinta familiar, na renovação das vinhas feita em 2003, mas tem sido
fascinante seguir a evolução dos seus brancos. E um dia mais tarde irei
comparar os que a foto mostra, das colheitas de 2014, 2015, 2016 e 2017.
Estes, como os das quintas do
Escudial e da Espinhosa, ilustram bem a diferença entre os vinhos que parecem
saídos de laboratórios (todos iguais, ano após ano) e os outros, trabalhados
quase como se fossem artesanato: há nuances de um ano para o outro, a evolução
é diferente, pressente-se num ano como poderá evoluir no ano seguinte. E,
justificando-se a coleção pela sua qualidade, será sempre cativante provar os de
anos diferentes. À mesa ou na “esplanada”… e com o vinho a uma temperatura
racional.
Estes são dos melhores vinhos
do Verão. E para todas as estações.
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