É confrangedor ver a polémica que se desenvolveu a propósito de um empréstimo de 2 milhões de euros a contrair pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha para obras nas estradas e para construir um teatro.
A câmara tem uma dívida actual de 3,9 milhões de euros, parece querer amortizar uma parte e diminuí-la para 3,3 milhões... mas com o empréstimo passará, obviamente, para os 5,3 milhões de euros. É uma ninharia, claro, desde que haja munícipes à disposição do poder municipal para serem esmifrados à vontade.
O PS, o CDS e o PCP estiveram contra, com argumentos básicos. O MVC, estranhamente, votou a favor. São pormenores irrelevantes porque o PSD tem maioria absoluta e faz o que quer. E às vezes bem à vista de quem devia estar mais atento. Os pormenores estão contados pelos jornais "Jornal das Caldas" e "Gazeta das Caldas".
Sendo importante a questão do empréstimo, em si, é talvez mais importante olhar para ele em função do que câmara municipal quer fazer e do que já fez, no que se refere a obras públicas.
Recordemos as intermináveis obras feitas na capital do concelho, que começaram em 2012 (em função das eleições autárquicas do ano seguinte) e que chegaram a prolongar-se até 2014, delas resultando, basicamente, dois fenómenos urbanos bizarros: uma avenida de passeios alargados e desertos e um parque de estacionamento subterrâneo. E recordemos que, com as obras, foram beneficiadas numerosas empresas de construção que, em vários casos, não asseguraram os respectivos trabalhos.
A situação (e agora suportada por um empréstimo que todos deveremos pagar) repete-se: em 2017 há eleições autárquicas, é sempre conveniente "fazer obra" e... haverá mais (ou as mesmas?) empresas de construção a serem beneficiadas.
Em termos práticos, digamos que a gestão da Câmara Municipal de Caldas da Rainha procura tornar-se atractiva para os eleitores que se deslumbrarão com mais obras e para empresas que ganharão mais dinheiro. E o que é que a gestão de uma câmara municipal ganha com isso? Votos, pelo menos...
Se a oposição a este desastrado PSD da "nova dinâmica" fosse, no mínimo, competente e profissional, teria concentrado as suas atenções nestes pormenores, para lá da questão contabilística. Aliás, o MVC (que se entregou ao "canto de sereia" de um caudilho demagogo, hipotecando os votos recebidos em 2013) devia estar especialmente atento a uma situação destas. Se também fosse competente e profissional.
A política neste município é, no entanto, uma espécie de brincadeira de crianças. A oposição (que não se esforça muito por parecer que quer derrotar o PSD nas eleições) fica-se por jogos florais e a "situação" também nem precisa de se esforçar muito. Estão bem uns para os outros.
Título do "Jornal das Caldas" e uma obra mal executada numa "rua" do interior por uma das empresas "amigas" da câmara... há dois anos.