Num concelho como o de Caldas da Rainha, politicamente bloqueado por uma maioria absoluta incompetente (os herdeiros do PSD de Fernando Costa) e com uma oposição fragmentada, feita de apêndices regionais dos principais partidos e sem projectos adequados, justificava-se uma iniciativa externa aos partidos do "status quo" que pudesse, na melhor das hipóteses, introduzir uma dinâmica capaz de, pelo menos, mudar alguma coisa.
O Movimento Viver o Concelho (MVC), que começou a germinar antes das eleições autárquicas de 2013 com uma candidatura de cidadãos independentes e desagradados com os partidos existentes, corporizou essa esperança, teve um resultado interessante nessas mesmas eleições e depois... nada.
Os seus eleitos foram mantendo alguma intervenção, aparentemente descoordenada, mas o resto dissipou-se. A intervenção pública desapareceu.
Mas, pior do que isso foi o modo como as figuras de referência do MVC resolveram, há cerca de um ano, abraçar a causa caudilhista de um candidato às eleições presidenciais que também se reclamou da "independência" política para lançar uma das campanhas eleitorais mais demagógicas que houve em Portugal desde 1974 e que, merecidamente, lhe deu uma derrota estrondosa.
Esse desvio do MVC não colou apenas um movimento independente a uma espécie de proto-partido unipessoal. Ao fazê-lo, o MVC levou como reféns os votos que conseguira em Setembro de 2013.
Foi, durante um ano, o que fizeram. E, com isso, o MVC morreu politicamente.
Agora, como se nada tivesse acontecido, o MVC anuncia uma "jornada subordinada ao tema 'Pensar Independente-Caldas da Rainha 2017', tendo como objectivo a promoção de um debate alargado e aberto (...) e envolver pessoas sensíveis ao tema, que se preocupem com o desenvolvimento das suas terras e/ou do concelho. Tendo em vista a possível construção de uma opção independente para as próximas eleições autárquicas."
Não é assim que as coisas se fazem e esta iniciativa parece oscilar entre a ingenuidade e a desonestidade políticas.
O MVC transforma-se deste modo nos "walking dead" da política caldense.
Por uma aliança de boas vontades
Além disso, como já escrevi, qualquer esforço sectorial (venha ele do que resta do MVC, do PS, do CDS ou do PCP ou dessa pérola da asneira que é o BE) será uma inutilidade nas eleições autárquicas de 2017: nenhum destes partidos, por si, conseguirá ganhar a Câmara Municipal ao PSD.
Juntos, no entanto, poderão fazê-lo.
Os resultados eleitorais de 2013 são claros e não se compreenderá que o PS, que conseguiu formar uma aliança tão espúria para o governo da nação, não consiga federar para as eleições deste concelho uma aliança de boas vontades que vise reunir a soma dos votos da oposição e sobrepô-los aos votos concelhios do PSD.
Defendi-o neste blogue e no "Jornal das Caldas" (ver aqui) e não deixa de ser curioso verificar que há mais gente a pensar nisso.
Foi o caso, de certo modo indirectamente mas a chamar os bois pelos nomes, do apontamento publicado na passa sexta-feira passada pela "Gazeta das Caldas".
A realidade
PSD
|
PS
|
MVC
|
CDS
|
PCP
|
BE
| |
Assembleia Municipal
|
8603
|
4766
|
2078
|
1986
|
1146
|
786
|
Câmara Municipal
|
9203
|
4866
|
1856
|
1967
|
1089
|
601
|
Fonte: Comissão Nacional de Eleições (eleições autárquicas de 2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário