O conceito, criticado por ser demasiado óbvio e não por não ser verdade, foi expresso nestes termos por um presidente de câmara da simpática vila de Penalva do Castelo: “Quem está com o poder come, quem não está cheira”.
O autor da frase era do CDS mas podia ser de qualquer outro partido, a começar pelo PS.
Talvez por ter um muito maior número de anos no poder (no governo central, nas câmaras municipais e no aparelho de Estado), o PS é, aliás, o principal partido que depende, para a sua própria existência, do poder. Dinheiro, empregos, vantagens em negócios, influência de decisões, maior poder na compra de votos… Tudo isto, e muito mais, oferece o poder. Mais do que os ideais, de que ainda lhe restará alguma coisa, o PS defende o poder para si e para os seus. Desaparecidos os ideais, o que fica, entre a “realpolitik” e a fome de poder, é uma tentação totalitária.
O Governo da “geringonça” e o seu chefe são os melhores e mais actuais exemplos deste PS. Depois das resmas de boas intenções (parece que havia um “programa macroeconómico” da autoria do actual ministro das Finanças…) da campanha eleitoral e da sua derrota nas urnas de voto, o PS e António Costa dedicaram-se aos malabarismos políticos de uma aliança com o BE e o PCP por um único e exclusivo motivo: garantir o poder. E, quando o conseguiram, foi como m oásis depois de uma travessia do deserto. Quase se ouviram os arrotos de quem, a morrer de sede, bebeu sem se fartar.
O PS precisava, urgentemente, de regressar ao poder. E percebeu que, para o fazer, precisava de acenar com o mesmo isco aos seus aliados: ao BE e ao PCP.
E o que se verifica, diariamente, é isto: os dois partidos que na sua matriz tinham o poder do Estado como dependente do poder dos “trabalhadores” entregam-se agora, com o maior despudor, aos braços do PS para garantirem um quinhão do poder do Estado. Seja lá como for, dando o que for preciso e mais um par de botas para poderem comer em vez de se limitarem a cheirar.
Este processo (que, segundo a teoria leninista, não passa de um desvio oportunista de direita por parte do BE e do PCP) não terminou. E pode passar por alianças eleitorais em eventuais eleições. Não custa a crer, por exemplo, que o PS possa estabelecer uma aliança eleitoral com o BE para garantir uma solução de governo, deixando o PCP ser a oposição “de esquerda”.
É certo que uma aliança desta natureza alienaria uma parte do eleitorado do PS e daria mais força ao BE, em detrimento do PS, mas também não parece que haja muita gente que o possa lamentar no partido de António Costa… desde que haja cargos para distribuir.
É por isso que, por muito mau que seja este governo (e na realidade é mau), a realização de eleições legislativas antecipadas pode pôr-nos numa situação ainda pior, embora possa haver vantagem em clarificar a situação política nebulosa que foi criada com o golpe de Estado parlamentar do PS, do BE e do PCP.
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