quarta-feira, 16 de março de 2016

Os novos donos disto tudo

1. A médica e ex-guerrilheira Isabel do Carmo tem a noção de que aquilo que, como outros, designa por “neoliberalismo” é causador da… obesidade.
Como escreveu no “Público”: “O neoliberalismo tem-se relacionado com o aumento da obesidade. Na Grã-Bretanha a obesidade passou para o dobro em 20 anos. Nos Estados Unidos tem crescido como se sabe. Para esta análise o National Bureau of Economic Research nos EUA construiu um modelo de cálculo com 27 variáveis sociais e concluiu que elas explicam 37 por cento do aumento do Índice de Massa Corporal, 42% da obesidade total e 59 por cento dos seus Graus II e III. O neoliberalismo faz mal à saúde.”
Cada um tem as teorias que quer ter sobre o mundo e suponho, sem conhecer os respectivos estatutos, que a Ordem dos Médicos não interdita os seus associados de terem as suas teorias, por mais bizarras que sejam, desde que elas não influam na prática clínica. Por exemplo: poder-se-ia depreender que uma leitura intensiva dos clássicos do marxismo, de Marx e Engels a Enver Hoxha, passando por Kim Il-Sung, curaria a obesidade a qualquer pessoa. Pode ser que não seja o caso.
Descontada a parte teórica, o que escreveu Isabel do Carmo sobre outro aspecto da vida moderna é muito pior do que um eventual delírio científico. 
No mesmo texto escreveu: “alguma comunicação social portuguesa, particularmente alguns canais de televisão, age como inimiga declarada do governo, como delegada da ordem das coisas dominante”.
Esta postura é um sinal claro do “tempo novo” que aí vem: há uma parte da “classe política” associada à tríade PS-BE-PCP que está apostada na imposição de um clima de domínio político que se traduzirá, nesta vertente, no controlo da comunicação social e dos jornalistas.

2. O ministro da Cultura demitiu, sem qualquer justificação que se conheça, o presidente do Centro Cultural de Belém (CCB), e nomeou para o cargo um seu subordinado. O anterior presidente tinha sido nomeado pelo anterior governo e não é do PS. O novo presidente é do PS e, que se saiba, não vê a sua nomeação acompanhada por qualquer programa concreto ou caderno de encargos por parte da tutela. 
Não se vê, tão pouco, que o currículo do novo presidente, por respeitável que seja, seja melhor do que o do anterior, que também parece ser respeitável.
As nomeações de pessoas do partido governamental para cargos dependentes da tutela governamental não são uma novidade na democracia portuguesa e, por sinal, não são consideradas um sinal de salubridade política. O que se vê sempre nestes casos é que ao eventual mérito se sobrepõe sempre uma cumplicidade política e partidária.
O que é mais raro nisto tudo, no entanto, é o procedimento: o ministro fez um ultimato público ao anterior presidente e anunciou, também, publicamente que o demitiria se ele não se demitisse, com uma desfaçatez e uma arrogância inusitadas.
A atitude do transitório ministro da Cultura é um sinal claro do “tempo novo” que aí vem: este PS radicalizado, com os seus estranhos companheiros de cama da extrema-esquerda, está apostado na imposição de um clima de domínio político que se traduz, nesta vertente, na entrega de lugares aos seus fiéis, esboçando assim uma rede clientelar e totalitária, como nunca se viu desde, pelo menos, o 25 de Abril de 1974.

3. Julgo que o Elisío Summavielle que conheci na Faculdade de Letras de Lisboa em 1974 ou em 1975 não teria aceite, nestas condições, o cargo que aceitou. 



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