"Caem coa calma as aves", escreveu Sá de Miranda (1481-1558) num dos seus sonetos de que me recordo sempre quando está mais calor.
Não caem, ainda, mas calam-se, de facto, substituídas pelos zumbidos das moscas e das abelhas desnorteadas.
[O soneto, completo e rico de interpretações, é assim:
O sol é grande: caem coa calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!]
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