terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Vermelho da Cor do Sangue": o 25 de Novembro

Em 25 de Novembro de 1975 estivemos mesmo à beira de uma guerra armada entre facções militares? O PCP quis tomar o poder pela forma das armas? E a extrema-esquerda? Os militares conservadores, o "Grupo dos Nove" e o PS aliaram-se, com o apoio dos EUA, para travar o que parecia ser uma revolução popular?
Em certa medida, e apesar do muito que existe escrito sobre o tema, o 25 de Novembro é um dos enigmas da História portuguesa depois do 25 de Abril. Tendo vivido directamente, em grande parte, o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC), acabei também por viver o 25 de Novembro, integrado numa organização juvenil que chamou os seus militantes para vigiarem a "reacção" e que depois os mandou para casa, sem explicações concretas.
Foi este conjunto de circunstâncias que me levou a pensa no contexto do 25 de Novembro para uma história. Utilizei-o numa história que nunca foi publicada e retomei-o em "Vermelho da Cor do Sangue", enquadrando o que poderia ter acontecido: um grupo organizado de militares a fazer crer aos soviéticos que iam fazer a Revolução e que precisavam de ajuda.
... E não conto o resto para não prejudicar quem gosta de surpresas numa história.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Vermelho da Cor do Sangue": o "Barca Velha"

O "Barca Velha" é um vinho tinto emblemático do Douro, famoso pela sua exclusividade (só é engarrafado nos melhores anos) e pelo preço elevado que atinge. É muito bom e eu tive a oportunidade de beber algumas garrafas de colheitas diferentes. É o melhor de todos os vinhos tintos? Longe disso.
O "Barca Velha" tem uma presença distinta no meu livro "Vermelho da Cor do Sangue" nas mãos de um banqueiro que esteve quase a ser preso durante o PREC, em 1975. Serve, depois, de elemento de ligação de um grupo conspirador. Acaba por ser, de certa maneira, um "vinho de missa" para uma congregação muito especial que nasceu na noite de 25 de Novembro desse ano. Mas o velho banqueiro sabe o que faz: o "Barca Velha", pelo seu estatuto, tem uma presença simbólica. Mas há melhor.
A mesma pessoa que me deu a conhecer o "Barca Velha" (um grande amigo, camarada de profissão e mentor em muitas coisas da vida, chamado Luís de Araújo) deu-me a conhecer um vinho tinto de 1973, de um organismo do Ministério da Agricultura chamado Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão. Esse tinto, magnífico, conquistou-me para os vinhos do Dão e, muito francamente, entre ele e os vários "Barca Velha" que bebi... a minha preferência vai para o Dão.
Tenho conhecido muitos vinhos do Dão, onde tento ir todos os anos, e não consigo, hoje, encontrar melhor do que os de uma pequena exploração familiar, a Quinta da Fata, em Vilar Seco (Nelas), onde os seus proprietários, Eurico e Maria Cremilde do Amaral, têm feito um trabalho notável.
E não sei se alguma vez trocaria um "Quinta da Fata" (sobretudo o seu Touriga Nacional) por um "Barca Velha". Parece mal dizê-lo e pensá-lo? Talvez. Até porque, passando das palavras aos actos, sabe melhor bebê-lo e saboreá-lo.

sábado, 27 de agosto de 2011

O vinho já não pode saber a vinho mas a...

... frutos tropicais, morangos, framboesas, amoras, ameixas, frutos secos, frutos silvestres, violetas, chocolate negro, "fruto fresco e assertivo", ginja, cacau, baunilha, groselhas, "frutos pretos", mel, baunilha amanteigada", cerejas maceradas e ... couro! É o que nos dizem as "notas de prova" sobre dúzia e meia de vinhos à venda na "feira de vinhos" do Pingo Doce. Nos nossos dias, o vinho já não pode saber às múltiplas castas de que é feito. E garanto que já vi referências a tabaco e suor de cavalo em "notas de prova". É assustador!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os atrasos nos pagamentos (4)

Eis um testemunho que me chega de um visitante (SG) e que é de reter: "O problema em trabalhar como "freelancer" prende-se com o facto de, em 99,9% das vezes, ser pedido o recibo verde antecipadamente, para "facilitar" a vida ao departamento de contabilidade. Ficamos sempre muito sujeitos a incumprimentos. Hoje em dia, não há tradução que faça sem contrato e foi precisamente graças a um contrato que consegui provar a dívida que uma editora, D., tinha (passou-se há cerca de 4 anos). Recebi um e-mail após entrega da tradução, a elogiar o trabalho, mas de pouco me valeram os elogios, pois após 5 meses de atraso, lá tive de recorrer a um advogado para enviar um aviso com prazo de pagamento de 8 dias úteis. Passados 3 dias, estava o dinheiro na minha conta e um e-mail no meu endereço a pedir desculpa por toda a demora... "
É bem verdade. Às vezes, é necessário resolver o assunto desta maneira. Normalmente, vem o dinheiro mas não vem mais nenhum trabalho... o que é uma maneira de revelar a qualidade de quem está do outro lado. E, por isso, as vítimas calam-se, com frequência. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Lisboa, capital do 'thriller'" - entrevista no "Diário Digital"

Há um ano, quando do lançamento de "A Cidade do Medo", respondi a uma série exaustiva de perguntas feitas pelo jornalista Pedro Justino Alves para o "Diário Digital" que saiu aqui, na íntegra, com o título "Lisboa, capital do 'thriller'". Está lá tudo quanto ao projecto iniciado por "A Cidade do Medo" continuado agora com "Vermelho da Cor do Sangue". 

"Vermelho da Cor do Sangue": Ulianov, o ex-KGB

O meu segundo romance, "Ulianov e o Diabo" (2006), tem três personagens principais: um ex-KGB que imigrou para Portugal, um antigo combatente da guerra colonial transformado em sem-abrigo (com a alcunha de "Diabo") e um empresário que, na prática, deserdou os dois filhos.
Apesar de a figura real em que me inspirei ser quase fascinante, não pensei em voltar a pô-lo em cena. Mas Ulianov e o "Diabo"... bem, não me apeteceu afastá-los por completo, como fiz, com outros "heróis", noutras histórias. E se o "Diabo" ficou em Lisboa (há uma referência em "A Cidade do Medo"), Ulianov saiu da cidade, a pensar em regressar à Rússia.
Não deixei, no entanto. E quis recuperá-lo, ou como personagem de uma série de histórias próprias ou, quando a oportunidade surgiu, como "guest star" numa das aventuras do inspector Joel Franco (o "herói" de "A Cidade do Medo" e de "Vermelho da Cor do Sangue").
Com uma intriga adequada (o interesse dos soviéticos nos acontecimentos de 1974 e de 1975 em Portugal), resolvi regressar à sua personagem em "Vermelho da Cor do Sangue".
Casado, com uma filha, Ulianov está, no início da história, no seu sossego doméstico, dando agora pelo seu nome real de Serguei Dennisovich Tchekhov. Mas ainda se recorda dos seus tempos de major no KGB, de militante comunista convicto e fiel (daí o seu "petit nom" com o apelido real de V. I. Lenine), de coronel nas tropas especiais (os temíveis "spetsnaz") e, claro, da sua vida de criminoso, ainda em Moscovo e depois em Lisboa. E vai dar uma ajuda ao inspector Joel Franco, com a sua faca de combate, a NR2.
O regresso de Ulianov, num contexto que não respeita os cânones da literatura nacional "politicamente correcta", é polémico. Mas poderá repetir-se. Talvez Joel Franco volte a precisar de ajuda...

domingo, 21 de agosto de 2011

"Southland" - pois, não é "The Wire"...

... mas recomendo. Depois de um começo titubeante, com um estilo quase documentarista, apresentada pela Fox em Portugal à sua boa maneira caótica, "Souhtland" (pormenores aqui e aqui) é apresentada no canal Fox Crime às terças-feiras, às 22h15, na sua terceira temporada. E a quarta já se encontra assegurada. Herdeira de "A Balada de Hill Street", "NYPD Blue" e, naturalmente, de "The Wire", "Southland" é do melhor que se faz actualmente em matéria de séries policiais. De "NCIS" falarei um dia destes...

(Regina King, a detective Lydia Adams)





Dois em um na FNAC.pt

Na FNAC on line (aqui) quem comprar "Vermelho da Cor do Sangue" (o n.º 2) recebe como oferta "A Cidade do Medo" (o n.º 1).

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Cornos" e "Guerra Mundial Z" no cinema

Dois livros que traduzi (e que fazem parte das boas apostas do editor Pedro Reisinho, na Gailivro/Asa) vão ser adaptados ao cinema, com estreias previstas para o próximo ano ("Guerra Mundial Z") e 2013 ("Cornos").
"Guerra Mundial Z", de Max Brooks, tem como realizador Marc Forster e Brad Pitt no principal papel, o do representante das Nações Unidas que entrevista os sobreviventes, e alguns dos protagonistas, da terceira guerra mundial, a Guerra Mundial Z (de zombies). No original é uma obra épica, com a história a ser habilmente construída através de fragmentos das entrevistas, e não deve ter sido fácil concluir um argumento coerente, o que levou a um atraso prolongado no arranque das rodagens. Mais informações aqui.
"Cornos", de Joe Hill, o filho de Stephen King que às vezes parece escrever melhor do que o pai, não parece ainda ter realizador contratado e, de momento, só se sabe que Shia LaBeouf (ex-"Transformers") será o trágico herói desta história, Ig Perrish. "Não posso esperar para o ver, com os cornos na cabeça, a pregar às serpentes diante de uma fornalha", diz Joe Hill, citado pela revista "Total Film" (no seu número de Setembro). Ig Perrish é um jovem que acorda, uma manhã, com os cornos do título na sua cabeça e o resultado é, simultaneamente, divertido e muito cativante. Joe Hill será produtor executivo do filme. 

domingo, 14 de agosto de 2011

Depois de "A Cidade do Medo", "Vermelho da Cor do Sangue"...





















Há um ano, saía "A Cidade do Medo", apresentando como herói o inspector Joel Franco, da Secção de Homicídios da Polícia Judiciária. Foi o primeiro número da colecção Não Matarás, na editora Asa, do grupo Leya, que terá este investigador criminal como personagem principal, em histórias da minha autoria.
O número 2 ("Vermelho da Cor do Sangue") sai esta semana.
O número 3 (com o "working title" de "Nossa Senhora da Cobra") já está a começar a ser escrito...

sábado, 13 de agosto de 2011

O que faz um passaporte soviético no cofre de casa de um banqueiro?

Quando um mercenário ucraniano chamado Gengis Khan assalta a casa do banqueiro Ramiro de Sá, deixa atrás de si um mistério, além de um vigilante morto: no cofre do banqueiro encontrava-se o passaporte de Valentin Zadenko, um emissário do Partido Comunista da União Soviética com um carimbo de entrada em Lisboa em 24 de Novembro de 1975.
Enquanto o inspector Joel Franco, da Secção de Homicídios da Polícia Judiciária, começa a investigar as circunstâncias da morte do vigilante, o passaporte torna-se um objecto a que várias pessoas querem deitar a mão: além de Ramiro de Sá, o chefe de uma máfia russa que vive a coberto de uma associação de amizade Portugal-Rússia, um veterano do PCUS que foi colega de Zadenko em Moscovo, dois inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras com propósitos muito pessoais, e ainda Svetlana Zadenko, que vem de Moscovo para Lisboa à procura do pai, com a ajuda de um angolano que estudou em Moscovo e que presta serviços a vários grupos criminosos.
E que beneficia de um apoio inesperado na pessoa de um ex-KGB e ex-spetsnaz chamado Serguei Denisovich Tchekhov, Herói do Povo na ex-URSS e depois criminoso na Rússia e em Portugal e mais conhecido por Ulianov.
E é com a ajuda de Ulianov que Joel Franco vai desenterrar a conspiração criminosa que nasceu no PREC e que envolveu banqueiros, militares revolucionários, o PCUS, gangsters russos e assassinos chechenos... e várias garrafas de "Barca Velha".
Pormenores em… “Vermelho da Cor do Sangue” (n.º 2 da colecção Não Matarás e que se segue a "A Cidade do Medo").
A partir de amanhã, dia 15, nas livrarias. E, para já, de certeza nas FNAC. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De onde vêm as ideias justas...

"As Ideias que Mudaram o Mundo", de Steven Johnson, que traduzi para a editora Clube do Autor, é um repositório bem interessante de factos sobre o nascimento das ideias, a sua evolução e os factores de inovação, com perspectivas curiosas sobre os efeitos da "serendipity" (palavra inglesa que, em português, equivale a "acaso" ou "aleatório") e uma teoria bastante sugestiva sobre o "adjacente possível" e as suas potencialidades. Com um mapa histórico das invenções e das descobertas que hoje fazem parte da nossa vida e cujas origens, em muitos casos, se perderam na (curta) memória humana.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os TVC

Tornei-me, há pouco tempo, cliente dos canais de cinema da televisão por cabo (via Zon/TV Cabo).
A programação desses quatro canais (agora designados por TVC1, TVC2, TVC3 e TVC4) é bondosa mas deixa um pouco a desejar. A maioria das produções mais recentes vão para o serviço "Videoclube", que não posso ter porque recebo o sinal de cabo por satélite. Os títulos mais interessantes estão, com poucas excepções, todos vistos. Restam curiosidades interessantes, outras que se revelam desinteressantes, filmes que não devem ter passado pelos clubes de vídeo, alguns esforçados, de "arte e ensaio", modestos ciclos temáticos e uma boa dose de lixo, servido indiscriminadamente.
O que mais me espanta, nisto tudo, é a ausência de informação. O que há, publicamente, são os títulos portugueses (ou originais, sem títulos nacionais). E mais nada. A própria programação da Zon/TV Cabo na internet resume-se aos títulos. Na comunicação social impressa, o melhor que se consegue é a programação semanal (dá tempo para a pesquisa...) que parece restrita ao "Correio da Manhã" das sextas-feiras.
Porque o resto é uma aventura. É preciso ver se o título português existe no valioso IMDB (o imprescindível site de informação sobre cinema), se se encontra através do Google ou no DVDpt. E depois tentar perceber o assunto, as referências críticas e pormenores que a Zon/TV Cabo acha que não são importantes (realizador, ano de produção, título original, intérpretes).
É pena que assim seja mas a não promoção dos vários TVC equivale, de certa forma, ao modo como os jornais vendem DVDs a preço de saldo, anunciando sempre que são os melhores filmes do mundo. O cinema perdeu importância e as empresas do sector preferem culpar os outros. Bem à portuguesa.

sábado, 6 de agosto de 2011

A impunidade das companhias de seguros e a complacência do Instituto de Seguros de Portugal

É arrepiante a impunidade com que em Portugal as companhias de seguros tratam os seus clientes e isso deve-se, em especial, à falta de hábito dos "tugas" de protestarem e de defenderem os seus direitos. E, também, à complacência da entidade reguladora, o Instituto de Seguros de Portugal (ISP), a quem bastam explicações mínimas das seguradoras alvo de reclamações para consideraren que está tudo bem.
A Axa, no seu seguro de animais domésticos, impõe a comunicação de cada "sinistro" num prazo de 24 horas para evitar fraudes (não são muito inteligentes, pois não...), argumentando, por outras palavras, que os seus clientes são burlões impenitentes. Tudo bem para o ISP.
A Logo passa ano e meio a dizer que enviou gravações das comunicações telefónicas à cliente com quem as manteve, sem o fazer nem demonstrar que os fez. E depois ainda acaba a dizer que as chamadas telefónicas em que se baseia a reclamação da sua cliente nem existem. Tudo bem para o ISP.
A BES Seguros retira da investigação de um acidente a empresa que contratara para o efeito quando o seu representante percebe que o cliente que reclamava até é capaz de ter razão. Tudo bem para o ISP.
Quando, um dia, uma seguradora for condenada em tribunal não apenas a uma qualquer indemnização mas por difamação ou por denúncia caluniosa talvez a coisa se resolva... 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"Medecina"


Não é "medicina". É "medecina". Assim mesmo, num título do "Diário de Notícias" de hoje.
Deve ser das Novas Oportunidades. Ou será o Acordo Ortográfico Parte II?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"The Wire" devia ser de visão obrigatória...

...para assistentes sociais, cinéfilos, críticos de cinema, economistas, editores (os inteligentes e sensíveis e os outros), escritores, jornalistas, magistrados, pais e mães, pessoas que gostam de histórias "policiais", pessoas que não gostam de histórias "policiais", polícias, políticos, professores, sindicalistas. Pelo menos.
(Reflexão sugerida por um regresso a uma das melhores séries televisivas de sempre através do livro "The Wire Re-Up", Guardian Books, 2009, e por outras leituras recentes. "The Wire" existe, completa, em DVD, com legendas em português.)