O "Barca Velha" é um vinho tinto emblemático do Douro, famoso pela sua exclusividade (só é engarrafado nos melhores anos) e pelo preço elevado que atinge. É muito bom e eu tive a oportunidade de beber algumas garrafas de colheitas diferentes. É o melhor de todos os vinhos tintos? Longe disso.
O "Barca Velha" tem uma presença distinta no meu livro "Vermelho da Cor do Sangue" nas mãos de um banqueiro que esteve quase a ser preso durante o PREC, em 1975. Serve, depois, de elemento de ligação de um grupo conspirador. Acaba por ser, de certa maneira, um "vinho de missa" para uma congregação muito especial que nasceu na noite de 25 de Novembro desse ano. Mas o velho banqueiro sabe o que faz: o "Barca Velha", pelo seu estatuto, tem uma presença simbólica. Mas há melhor.
A mesma pessoa que me deu a conhecer o "Barca Velha" (um grande amigo, camarada de profissão e mentor em muitas coisas da vida, chamado Luís de Araújo) deu-me a conhecer um vinho tinto de 1973, de um organismo do Ministério da Agricultura chamado Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão. Esse tinto, magnífico, conquistou-me para os vinhos do Dão e, muito francamente, entre ele e os vários "Barca Velha" que bebi... a minha preferência vai para o Dão.
Tenho conhecido muitos vinhos do Dão, onde tento ir todos os anos, e não consigo, hoje, encontrar melhor do que os de uma pequena exploração familiar, a Quinta da Fata, em Vilar Seco (Nelas), onde os seus proprietários, Eurico e Maria Cremilde do Amaral, têm feito um trabalho notável.
E não sei se alguma vez trocaria um "Quinta da Fata" (sobretudo o seu Touriga Nacional) por um "Barca Velha". Parece mal dizê-lo e pensá-lo? Talvez. Até porque, passando das palavras aos actos, sabe melhor bebê-lo e saboreá-lo.
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