O meu segundo romance, "Ulianov e o Diabo" (2006), tem três personagens principais: um ex-KGB que imigrou para Portugal, um antigo combatente da guerra colonial transformado em sem-abrigo (com a alcunha de "Diabo") e um empresário que, na prática, deserdou os dois filhos.
Apesar de a figura real em que me inspirei ser quase fascinante, não pensei em voltar a pô-lo em cena. Mas Ulianov e o "Diabo"... bem, não me apeteceu afastá-los por completo, como fiz, com outros "heróis", noutras histórias. E se o "Diabo" ficou em Lisboa (há uma referência em "A Cidade do Medo"), Ulianov saiu da cidade, a pensar em regressar à Rússia.
Não deixei, no entanto. E quis recuperá-lo, ou como personagem de uma série de histórias próprias ou, quando a oportunidade surgiu, como "guest star" numa das aventuras do inspector Joel Franco (o "herói" de "A Cidade do Medo" e de "Vermelho da Cor do Sangue").
Com uma intriga adequada (o interesse dos soviéticos nos acontecimentos de 1974 e de 1975 em Portugal), resolvi regressar à sua personagem em "Vermelho da Cor do Sangue".
Casado, com uma filha, Ulianov está, no início da história, no seu sossego doméstico, dando agora pelo seu nome real de Serguei Dennisovich Tchekhov. Mas ainda se recorda dos seus tempos de major no KGB, de militante comunista convicto e fiel (daí o seu "petit nom" com o apelido real de V. I. Lenine), de coronel nas tropas especiais (os temíveis "spetsnaz") e, claro, da sua vida de criminoso, ainda em Moscovo e depois em Lisboa. E vai dar uma ajuda ao inspector Joel Franco, com a sua faca de combate, a NR2.
O regresso de Ulianov, num contexto que não respeita os cânones da literatura nacional "politicamente correcta", é polémico. Mas poderá repetir-se. Talvez Joel Franco volte a precisar de ajuda...
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