Foi, pelo menos, há dez meses que levantei a dúvida: o PSD poderia não conseguir recuperar a Câmara Municipal de Caldas da Rainha, politicamente perdida em 2021 para o grupo arrivista Vamos Mudar. E quem o quisesse desafiar a sério tinha de estar no terreno, a combatê-lo diariamente, e sem demora. E com tempo.
Foi isto que escrevi em 11 de Agosto de 2024:
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| O post pode ser lido na íntegra aqui. |
A solução que já estava a ser ponderada, com maior ou menor convicção, no seio do PSD de Caldas da Rainha (que era, e ainda será, o segundo maior partido do concelho e o rival mais directo do Vamos Mudar), era mesmo esta: Hugo Oliveira, com experiência da câmara mas mais dedicado à sua carreira política na Assembleia da República, candidato à Câmara Municipal, e Fernando Costa, presidente da câmara durante vários mandatos, candidato à Assembleia Municipal. Seria, de certo modo, uma candidatura "natural". E quanto mais depressa estivesse no terreno, melhor seria.
Mas as decisões demoraram muito tempo e tiveram de passar oito meses, e várias peripécias, para que (segundo o jornal "Gazeta das Caldas" e sem confirmação oficial) o PSD tomasse a decisão... que não podia deixar de tomar e que terá estado prestes a não tomar. Ei-la:
É uma boa notícia que vem tarde porque as eleições deverão realizar-se em Setembro. Mas maiis vale tarde do que nunca, no entanto. Quanto à possibilidade de esta candidatura do PSD (com o que resta do CDS) ganhar e conseguir afastar Vítor Marques... bem, a minha dúvida mantém-se, e agora noutra perspectiva e tomando já em consideração os resultados das eleições legislativas do mês passado. Vejamos porquê, olhando para as circunstâncias e para os números.
A vantagem inicial
O presidente da câmara, Vítor Marques, começou, praticamente, a fazer campanha pela sua reeleição neste ano desde que ganhou as eleições em 2021. Nunca escondeu as suas ambições, sendo impossível dissociá-las da expectativa que terá, como empresário, de poder alargar a sua esfera de influência e os seus negócios graças à sua posição de presidente da Câmara Municipal, ambição naturalmente legítima se for, de forma adequada, distanciada da sua carreira política.
Ao contrário de outros seus antecessores, Marques está a jogar tudo numa estratégia clara de comunicação. Para o que servirá a animada política de contratação de "especialistas" em comunicação pela sua câmara municipal. Planos diversos, actividades frenéticas, campanhas políticas ao sabor das necessidades, presença assídua nos órgãos de comunicação do concelho... tudo lhe serve.
Bastaria esta circunstância para a oposição que chega tarde correr um sério risco nas eleições. Três meses é tempo a menos para contrariar o efeito de quatro anos de campanha de um candidato que tem o controlo da Câmara Municipal, onde se imagina como homem do leme.
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| Um post, do próprio, do Facebook ainda de 2018 |
O Vamos Mudar e o PS vão coligar-se?
O chefe do Vamos Mudar foi eleito presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha em 2021 com 9037 votos. E o então presidente da câmara, Tinta Ferreira, que encabeçou a lista do PSD, foi derrotado com 7707. Os 627 votos que a lista do CDS, em coligação com outros pequenos partidos, obteve de nada lhe teriam servido. O PS teve 2474 votos. O que também de nada lhe serviu.
No início, Marques ainda fez a corte ao cabeça de lista do PS, Luís Patacho, sendo inevitável ver na aliança entre os dois um projecto conjunto para as eleições deste ano. E se Patacho saiu de cena, o PS de Caldas da Rainha (que nunca conseguiu chegar à Câmara Municipal) não pôs de lado a hipótese de poder encontrar alguma maneira de chegar ao poder, atraído pelo seu cheiro cativante.
Em 3 de Abril de 2025, o "Jornal das Caldas" publicou uma notícia com o título "PS e Vamos Mudar em conversações para acordo eleitoral nas Caldas". O rasto da notícia ainda está no Facebook, mas a notícia, em si, desapareceu. Não se soube mais nada e até se pode pensar que tenha sido uma brincadeira de 1 de Abril. Mas, se fosse, teria havido decerto uma nota posterior a dizer isso mesmo. E não houve. E a notícia não teria desaparecido. Dois meses depois, é estranho este desaparecimento.
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No Facebook é o que se encontra, mas a notícia, no próprio "Jornal das Caldas", desapareceu
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Não tendo havido mais notícias sobre o "acordo eleitoral" (o que não quer dizer que não tenha havido contactos), o certo é que um novo elemento relacionado com as relações entre Marques e o PS acabou por emergir mais recentemente: o apoio expresso de Marques no Facebook, com apelo à sessão de apresentação do candidato na capital do concelho, ao ex-dirigente socialista António José Seguro, a quem designa já por "Futuro Presidente da República", numa espécie de investimento.
Residente, por motivos matrimoniais, em Caldas da Rainha, António José Seguro (que até poderia ter sido um bom presidente nesta câmara municipal) pode servir de elemento de ligação com o PS local e, com ou sem qualquer mecanismo de troca, ser a bengala para Marques se sentir mais tranquilo nesta eleição.
Porque, à partida, o Vamos Mudar precisa dos votos do PS para ganhar, o que será facilitado por uma aliança entre as duas partes. E esses votos até poderão ser suficientes para derrotar o PSD.
Uma análise, muito superficial, dos resultados eleitorais no concelho (Câmara Municipal e Assembleia da República) diz-nos isso e diz-nos mais algumas coisas. Vejamos alguns aspectos e algumas interrogações:
1. Quem foram, e quem serão, os eleitores do Vamos Mudar em 2025? De onde onde foram para o Vamos Mudar em 2021, e em quem votaram nas eleições legislativas de 2024 e deste ano? No PSD, no Chega, na Iniciativa Liberal e no PS? E serão eleitores fixos do Vamos Mudar, susceptíveis às acções de propaganda e de comunicação política do chefe da Câmara Municipal?
2. Por comparação com as eleições de 2017, vemos que em 2021 o PS perdeu quase 3000 votos. Terão ido para o Vamos Mudar? Depois, nas eleições legislativas, o PS recuperou eleitores, mais em 2024 do que em 2025. Como é que estes eleitores votarão este ano nas autárquicas? Note-se que o PS ainda não tem, ou não apresentou, candidato à presidência da Câmara Municipal.
3. O PSD perdeu quase 4000 votos entre 2017 e 2021. Muito provavelmente para o Vamos Mudar, cujo chefe foi, aliás, deste partido. Os eleitores do PSD, no entanto, não terão regressado todos a este partido nas eleições legislativas, onde o Chega obteve 6614 votos já este ano. Há uma perda de cerca de 1500 eleitores em 2025 desde as eleições de 2017.
4. Em 2021 o Chega teve só 646 votos. Três anos depois, registou um resultado impressionante (5572 em 2024), que se alargou ainda mais este ano (6614 votos). Estes eleitores apoiarão a candidatura deste partido à Câmara Municipal (que até pode vencer) ou dispersar-se-ão por outras candidaturas? Que poderão ser o PSD ou o Vamos Mudar?
5. Haverá um efeito de "voto útil" em torno da candidatura do PSD contra o Vamos Mudar? Não creio, porque uma das consequências do atraso do PSD foi a ausência de alguém que, constantemente e com exemplos bem concretos, pudesse denunciar e combater o estado ruinoso em que o Vamos Mudar está a conseguir mergulhar a Câmara Municipal e o próprio concelho. O eleitorado, em geral, desconhece a situação.
6. Numa perspectiva apenas matemática, será suficientes para o Vamos Mudar ganhar a soma dos eleitores "orfãos" que lhe deram a vitória em 2021 com os eleitores pouco convictos do PS.
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Hugo Oliveira e Fernando Costa têm uma tarefa difícil pela frente e uma derrota nestas eleições será fortemente penalizadora para o primeiro. E só a sua vitória poderá travar Vítor Marques e o seu projecto de poder unipessoal.
Para já, lamentando que se apresentem tão tarde, é neles que votarei. E, esperando que apresentem ideias e projectos úteis para o desenvolvimento do concelho, fá-lo-ei numa perspectiva de "voto útil" para correr com o actual presidente da Càmara Municipal de Caldas da Rainha.
Boa sorte! A ambos e a nós todos.
(Imagens de fonte aberta de acesso público.)
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