À distância, na "rotunda do Greenhill" da Foz do Arelho, o que se vê é uma coisa estranha, sem forma, como um objecto caído do espaço ou saído dos recantos mais sombrios da ficção de H.P. Lovecraft ou dos desertos de Arrakis, o planeta dos vermes da areia de "Dune"). E depois, mais perto, é preciso quase parar (numa rotunda!...) e usar a imaginação para, por fim, se perceber que esta espécie de "blob" até tem uma forma definida.
Vejam só:
A ideia parece ser a de representar um búzio, embora disforme. A fazer fé no Facebook, haverá no local uma placa com a informação "Ouvir o Mar"... e com a Foz do Arelho transformada em "Foz Arelho"!
O pai e a mãe da coisa são, politicamente, os bípedes que se avistam nesta fotografia e na sua ampliação: à esquerda está o azougado presidente da Junta de Freguesia da "Foz Arelho" (vá lá que não saiu "Foz Orelho"...) e à esquerda o não menos azougado presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, que de há muito estendeu a sua manta de favores a este presidente da junta, talvez num bizarro "quid pro quo" relacionado com a sombra penal que paira sobre o primeiro.
Mas, em termos de criatividade, já a coisa é mesmo órfã: não se sabe quem foi o autor, podendo até especular-se que quem fez isto deve estar profundamente envergonhado pela disformidade da sua criação.
Depois, como é habitual, não se sabe quanto custou e quem ficou com o dinheiro.
Devido à associação a Bordallo Pinheiro e à Escola Superior de Artes e Design e a alguma actividade tradicional e artesanal no domínio da cerâmica, o município de Caldas da Rainha ganhou uma imagem, algo desmaiada, de ser "amigo" das artes. Será, no que se refere aos seus organismos, mais amigo de alguns artistas, favorecidos e homenageados por quem manda, do que das artes em geral. E sem consultas populares, ou à própria ESAD, ou concursos públicos maçadores.
Foi o que já aconteceu no objecto (que por comparação com este é uma coisa tão linda...) montado numa rotunda da Serra do Bouro. E talvez seja melhor nem escrutinar a escultura de um pescador com artroses num barco e com gaivota que apareceu noutra rotunda da "Foz Arelho".
Esta monstruosidade que pousou na "rotunda do Greenhill" e uma afronta às artes, à Foz do Arelho (e não à "Foz Arelho"), à combinação do vasto horizonte do Oceano Atlântico com a zona serrana do interuor, ao bom-senso e à inteligência. E, como homenagem, só serve para homenagear o chico-espertismo e os compadrios da política.
Devia ser arrasado, mas, infelizmente, não acredito que o venha a ser. É o que me diz a minha experiência de 20 anos de vida nesta região.
Secretismo
O "Jornal das Caldas", aqui, revela quem são os dois "pais" da coisa, mas fica omisso um elemento fundamental: quanto custou.
Os orgulhosos progenitores são Ovídio António, arquitecto e empresário (Ovídio António, Lda., arquitectura, e Renato Franco, escultor e empresário (Renato Franco Unipessoal, Lda.). A escultura, garante este, é "feita ao bronze" e "vai ganhar colorações diferentes de acordo com a altura do ano". Ficamos a saber que pesa mais de uma tonelada, por exemplo, mas já não sabemos quanto custou.
Decidida sem concurso, a coisa foi fabricada e remunerada com o dinheiro dos munícipes de Caldas Rainha. Mas estes, como já é habitual e num clima de segredo e de falta de transparência, não podem saber quanto é que pagaram por este "blob".






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