Jornais impressos de hoje: a greve só impediu a saída do malogrado "DN" |
A pouco inteligente criatividade sindical tem, às vezes, desviado o sentido da greve, voltando-a contra o público. Como se o público pudesse fazer alguma coisa para pressionar o patronato que, com o não pagamento dos dias de greve, ainda poupa dinheiro.
Depois das greves terroristas e cínicas do famoso Sindicato dos Maquinistas, há mais de trinta anos, tivemos (e ainda devemos ter) o caso do pessoal da empresa CTT: fazem greves que bloqueiam a entrega de correspondência, prejudicando directamente o público e beneficiando objectivamente a empresa, que acaba por gastar menos dinheiro.
A greve dos jornalistas, anunciada com grande espavento pelo Sindicato dos Jornalistas (que, como outras entidades do sector, serve às vezes de "sopa dos pobres" para "has beens" e jornalistas sem emprego), andou por estas águas mas numa perspectiva ainda pior.
O serviço noticioso não foi, verdadeiramente, interrompido.
Ninguém foi, ontem, impedido de ver, ou ler, notícias e também não vejo que, a existir esse impedimento, houvesse muita gente a sentir-se prejudicada por isso. As empresas jornalísticas também não foram prejudicadas e, no caso dos jornais impressos, lá os têm hoje nas bancas para satisfação dos seus anunciantes, que são quem paga a imprensa escrita.
O único jornal que não saiu foi o malogrado "Diário de Notícias", onde se vai vivendo um verdadeiro PREC ao sabor das perturbações empresariais vingativas decorrentes da sua precária situação económica. Aliás, a greve parece ter sido feita em função do "Diário de Notícias", o que é uma triste ironia político-jornalística: o jornal diário mais querido do Estado Novo transformou-se num cadáver sucessivamente adiado cinquenta anos depois do 25 de Abril.
Mais do que a greve, esta ou outra, os jornalistas deviam dedicar os seus esforços a tentarem compreender o buraco financeiro e profissional em que se foram deixando enfiar.
A crise da imprensa, real e insanável mesmo no recurso ao dinheiro dos nossos impostos, ainda pode ser ultrapassada se os seus protagonistas perceberem como o mundo mudou (e, com ele, os mecanismos de formação da opinião da população). A começar pelos jornalistas.
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