O Chega, o CDS, a Iniciativa Liberal e o PSD (por ordem alfabética) representam, com os seus 138 deputados, uma parte substancial do eleitorado que, ao votar, teve uma mesma opção: oposição absoluta ao PS no poder. Havendo diferenças, talvez não muito significativas, entre o que esses partidos propõem, une-os a mesma perspectiva: oposição absoluta ao PS no poder. A vitória colectiva daquilo a que se designa por "direita" exige uma posturas de responsabilidade por parte de todos.
O PSD fez, irreflectidamente, uma asneira com o seu "não é não" no que se refere ao seu relacionamento com o Chega. Devia ter remetido essa parte do que deve ser a sua política de alianças para os resultados das eleições de 10 de Março (em vez de ceder apressadamente às investidas do PS), porque uma coisa é negar uma aliança com um partido de 5 deputados e outra é fazê-lo com um partido de 50 deputados, com mais de um milhão de eleitores.
Esta situação, que obviamente não favorece o Chega, nem o PSD, e que pode prejudicar politicamente o País, não deveria ter sido um obstáculo para o momento de irresponsabilidade e de imaturidade vivido nos primeiros dois dias do novo Parlamento.
O Chega recusou-se a votar no deputado indicado pelo PSD para a presidência do Parlamento. E o presidente do Parlamento é a segunda figura do Estado. Ou seja, a pessoa que substitui o Presidente da República se este estiver impedido de exercer as suas funções.
Para ser eleito, o presidente do Parlamento tem de obter 116 votos, ou seja, mais de metade do conjunto dos deputados. Feitas várias tentativas, o que não prestigiou a Assembleia da República, o nome proposto pelo PSD não teve votos suficientes. Os deputados do PS votaram no seu próprio candidato e os do Chega votaram em branco.
Perante isto, o PS propôs ao PSD (que aceitou, claro) dividirem o previsível período de quatro anos da legislatura em duas partes: nos primeiros dois anos, o presidente é do PSD, nos dois anos finais será do PS. E o resultado foi o previsível: o presidente da Assembleia da República é, agora, do PSD. Daqui por dois anos, a segunda figura do Estado será do PS. Do PS que foi derrotado nestas eleições.
O Chega ficou de fora deste acordo. Estupidamente. Pode ter tido mil razões para querer punir o PSD, mas não o devia ter feito. O que estava em causa era a respeitabilidade institucional da Assembleia da República e a importância política e institucional do presidente da Assembleia.
Se quisesse mostrar que é um partido responsável e com maturidade política, teria, pelo menos e ostensivamente, dado ao PSD apenas os 36 votos de que o candidato do PSD precisava para ser eleito (sem contar com a IL). Haveria tempo, mais tarde, para todos os ajustes de contas.
A birra do Chega fez com que o PS, o partido derrotado e que quis apoderar-se do Estado, ganhasse uma posição imerecida.
Não me assustam as acusações de "extrema-direita" que às vezes são lançadas contra o Chega. Quem conhece a História, sabe que não é do partido de André Ventura que vem qualquer ameaça de vulto para a democracia. Mas esta demonstração de irresponsabilidade e de imaturidade do Chega, este desconhecimento da importância de definir o inimigo principal e de agir em conformidade, é inquietante. E é um obstáculo ao progresso.
Conseguirá André Ventura perceber o que está realmente em causa? |
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