terça-feira, 24 de maio de 2022

Vizinhos de boa vizinhança e um caso de má vizinhança

 

Em Outubro de 2017, na noite em que um incêndio de grandes proporções ameaçou a região onde vivo (Serra do Bouro, Caldas da Rainha), eu e o meu vizinho de cima, cuja casa dista poucos metros da minha, encontrámo-nos na curva da rua que separa as duas habitações a fazermos a mesma constatação: se as chamas chegassem, tanto a casa dele como a minha poderiam arder. 

A situação exigia cooperação: era do nosso mútuo interesse que a vegetação em volta das casas e as próprias casas estivessem molhadas, e pouco interessava se a pessoa estivesse a gastar a sua própria água na sua própria casa ou na do vizinho.

Depois disso, houve uma vez em que o meu vizinho vinha a descer de carro e eu a entrar em casa e ele parou, chamando-me. Estávamos na época do Natal e ele desejou-me "Boas Festas". Teve essa gentileza. 

Com o máximo respeito mútuo pela privacidade de cada um dos agregados familiares e com uma cortesia que é rara, este meu vizinho e a sua mulher têm tido manifestações de grande simpatia para connosco e nós, agradecendo muito, tentamos corresponder. 

Um outro vizinho, que vive nesta aldeia também já nos presentou, espontaneamente, com batatas, tomate e couve e favas, que eu só não consegui aproveitar porque elas me pareceram ter sido queimadas pela geada antes de as poder apanhar (como ele próprio me convidou a fazer, por estar ausente). Ele e a mulher são também extremamente simpáticos e eu só lamento não ter produtos próprios com que possa retribuir.

Há outros vizinhos e vizinhas que são igualmente corteses e simpáticos e, no caso de quem tem cães para passear, esse bom entendimento é essencial e eu, com uma Elsa pouco aberta a dar-se com outros cães, só posso agradecer.  

E depois há aqueles que, recorrendo a um lugar-comum, se podem considerar as "ovelhas negras". Ou pior, em termos de bicharada. 

O pior caso é o de uns vizinhos de quem, dá para perceber, ninguém por aqui gosta. 

E com razão. Julgam-se os "donos disto tudo" locais e são de uma arrogância reles. E são malcriados de raiz. 

Fique este exemplo, bem ilustrativo: há algum tempo, quando eu ainda falava com o gajo, ao contra-argumentar a uma invectiva do tipo, ele, presunçoso e com uma barriga parecida com a de uma grávida de poucos meses, saiu-se-me literalmente com esta: "Na peida é um descanso!" 

Terminei a conversa nesse mesmo momento e nunca mais lhe dirigi a palavra. Mas ficou-me sempre a dúvida: estaria ele a fazer-me algum convite sexual?...





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