quarta-feira, 29 de julho de 2020

Ler jornais já não é saber mais (89): o jornalixo


A palavra é feia, mas sugestiva: em vez de "jornalismo", "jornal...ixo". 
Como jornalista que já fui, nunca me agradou. Era, para mim, uma agressão estúpida a uma profissão onde havia uma imensa qualidade humana e cultural. Nunca pensei que a poderia usar. Mas uso-a. Aliás, não há melhor.
Nestes tempos de crise sanitária em que vivemos, a imprensa (jornais e televisões e calculo que também rádio) desceram a um nível de baixeza que nunca julguei possível e onde, com raras excepções, o jornalismo tem sido espezinhado. 
Está tudo à vista no modo como os jornalistas têm, em geral, lidado com a "pandemia" e com o "novo coronavírus". Desde, pelo menos, Fevereiro. Ou seja, há mais de cinco meses.
A imprensa nacional, impulsionada pelas notícias alarmantes que vinham da China, criou, com a ajuda dos políticos assustados e desesperados que não sabiam o que haviam de fazer, um clima de medo como nunca antes se vira. A narrativa passou a ser única e unívoca: as centenas de "novos casos" diários (na sua maioria já todos assintomáticos), os mortos "de covid" (na realidade, com covid), a eterna "segunda vaga" prometida todos os dias, a cobertura dada (e paga!) ao discurso oficial e as fixações ideológicas que destroem a lucidez da análise.
O jornalismo, ensinaram-me todos os dias, é feito de debate, de contraditório, de investigação e análise, de aquisição de conhecimentos, de raciocínio e de interrogação e muitas interrogações. E é por isso que se devem ouvir as vozes dissonantes, as vozes dos "outros", as vozes críticas. 
Os jornalistas podem ter as suas agendas pessoais (e políticas) mas devem respeitar os deveres básicos da deontologia e da ética.
Não é o que acontece neste momento. As vozes que, com saber, ciência e fundamento, têm discordado da narrativa oficial sobre a pandemia, estão desgraçadamente ausentes da imprensa nacional. Cientistas, médicos, analistas... não existem, se divergem.
A imprensa nacional transformou-se numa máscara gigante que vai impondo à população que lhe dá ouvidos.
E, com isto, o jornalismo transformou-se em jornalixo.
Voltaremos a ter jornalismo ou viveremos no jornalixo para sempre?


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