terça-feira, 14 de julho de 2020

A Alemanha, a guerra tão longe e tão perto: "A Casa Alemã", de Annette Hess



A Segunda Guerra Mundial não é apenas a guerra em si, a ascensão de um regime de terror e a monstruosidade do extermínio programado dos "inimigos" internos e externos. 
Há toda uma realidade que se prolonga pelos anos que se seguiram à derrota alemã, em 1945, que deixou sequelas profundas, que ilumina e simultaneamente esconde o incómodo doméstico sobre a força do poder nacional-socialista. Porque, afinal, a tomada do poder pelo partido nazi teve na sua base eleições ganhas por um grupo de gente perigosa que soube explorar o descontentamento nacional pela derrota de 1918.
"A Casa Alemã" (que traduzi para a editora Bertrand) é um romance que parte do segundo julgamento das atrocidades de Auschwitz, que decorreu em Frankfurt em 1963 - 1964, para uma descrição fria e desapaixonada, mas tão repleta de emoção, das sequelas que ficaram do regime nacional-socialista. 
A sua construção literária é simples mas intensa. A personagem de Eva Bruhn, a jovem que descobre uma face do seu país e o passado dos pais, é a melhor guia para esta viagem. 
Poderá achar-se a narrativa fria, mas talvez Annette Hess tenha sentido a necessidade de introduzir elementos de distanciação perante um cenário onde a esperança tem dificuldade em afirmar-se de forma clara. No seu equilíbrio de emoções, no seu jogo de sombras e de luzes, "A Casa Alemã" é admirável.

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Traduzi "A Casa Alemã" antes de traduzir outra obra sobre a realidade alemã, nesta caso sobre um círculo de resistência ao nacional-socialismo no seio da própria sociedade alemã que ficou conhecido, equivocamente, por "Orquestra Vermelha". 
Intitulado "Harro und Libertas", este livro de não ficção de Norman Ohler (o autor de "Delírio Total") é uma obra magnífica. "Harro und Libertas" (que vai ser publicado pela 20|20) e "A Casa Alemã" compõem um retrato aprofundado e rigoroso da Alemanha nacional-socialista e são obras imprescindíveis para conhecer melhor a história deste país tão contraditório.

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