quarta-feira, 20 de maio de 2020

Episodicamente agradável para o cliente, temporariamente útil para a puta








A presente crise económica da imprensa não é de agora. Já existia antes do coronavírus.
A quebra de publicidade (e é a publicidade que sustenta as empresas do sector e não os clientes seus consumidores) deste período apenas agravou, e expôs por completo, uma situação de penúria causada pela incapacidade de a imprensa inovar.
O "apoio" dado pelo Governo (11 250 000 €) à imprensa de âmbito nacional e a um canal de televisão portuense vai, em termos práticos, servir para tapar alguns buracos. 
Mas depois, quando o dinheiro se acabar, as empresas fazem o quê? Pedem mais ao Estado (ou seja, a todos nós, contribuintes)? Ou fazem aquilo que já deviam ter feito, num processo absolutamente racional: reinventam-se ou morrem? 
A situação, condenável, é agravada por outra circunstância: o "apoio" está, e já funciona, demasiado parecido com uma compra da imprensa. Ou seja: com a aquisição de favores. O Governo paga, a imprensa apoia, agradecida. 
É como o cliente da prostituição: vai aliviar-se, paga à prestadora de serviços, ele fica com o bem-estar que a coisa lhe proporcionou e ela já ganhou mais qualquer coisa para ir satisfazendo as suas necessidades. Na aceitação sôfrega destas apoios, a imprensa fez-se puta. E o Governo gozou.
Quanto ao jornalismo... pode ser que isto se transforme numa doença venérea.

*

Quanto ao "quem é quem" da coisa, para melhor ser o escrutínio:

Avenida dos Aliados (23 270.27€), canal de TV - Porto Canal
Cofina (1 691 006.87€), TV e publicações - CMTV, Correio da Manhã, Sábado
Global Notícias (1 064 901.66€), jornais e rádio - Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF
Impresa (3 491 520.32€), televisão e jornal - SIC, Expresso
Media Capital (3 342 532.88€), televisão e rádios - TVI
Megafin (28 844.47€), jornal - Jornal Económico
Newsplex (38 645€), jornais - Sol e i
Observador  (19 906.29€), jornal on line e rádio - Observador
Público (314 855.38€), jornal - Público
Rádio Renascença (480 258.93€), rádio - Rádio Renascença
Vicra Desportiva (329 187.48€), jornal e TV - A Bola
Swipe News (18 981.46€), jornal on line - Eco
Trust in News (406 088.99€), revistas - Visão, Exame, Caras

Quando os leram, ouvirem e verem, lembrem-se de que estão a ver, a ouvir e a verem o que eles fazem com o vosso dinheiro.


Actualização (21.05.20):
Depois disto escrito, soube-se, com algum estrondo, que o Observador e o Eco recusaram o dinheiro do Governo e que a TVI (Media Capital, 3 342 532.88€) e a Visão (Trust in News, 406 088.99€) atacaram vozes que são incómodas para o Governo (a jornalista Ana Leal e o deputado André Ventura).






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