Às seis horas, de manhã, já estou habitualmente sentado a trabalhar.
É de noite, em regra, e só há um período breve do ano em que a esta hora já posso ver a claridade do dia.
Prefiro trabalhar com a luz do dia mas a escuridão da noite não me perturba e também não tenho medo do escuro. Prefiro ter mais claridade ao entardecer e que o dia não desapareça tão cedo. Mas, lá está, também faço o que tenho de fazer, dentro ou fora de casa, quando já cai a noite ou quando ainda é de dia.
Quando, como jornalista, escrevi sobre educação e políticas educativas, tive ocasião de conversar algumas vezes com o militar que, depois de ter servido na PSP de Macau, montou um sistema de segurança nas escolas básicas e secundárias que precedeu, e com enormes vantagens, o propagandístico "Escola Segura" do PS.
Uma das coisas, do mais elementar bom senso (mas em que não tinha ainda pensado), que me disse o discreto e competentíssimo major Jorge Parracho foi que a criminalidade em torno das escolas e dentro delas, quando ela "furava" o esquema dos seus homens do seu eficaz Gabinete de Segurança, se fazia sobretudo sentir ao entardecer. Quando escurecia. Não era de manhã que a violência da criminalidade assolava as escolas. Nessa altura, a maior parte dos meliantes ainda estava a dormir.
A situação não se deve ter alterado, embora os defensores da mudança da hora tentem estribar-se, infelizmente sem contraditório, no que seriam as muitas "vantagens" (invisíveis, aliás) de ter os alunos a sair da escola à noite e a entrarem de dia. Acho que ninguém as percebe.
A falácia escolar e a da economia justificam um finca-pé idiota (que sempre o foi…) dos defensores da mudança da hora.
Talvez as "vantagens" laborais da mudança da hora se apliquem à função pública. Porque quanto ao resto do País, não há muita margem para dúvidas: onde há competência, qualidade e disciplina, o trabalho tem de ser feito, de noite ou de dia. Como eu faço, diariamente.
Entre os decisores, loucos por porem o País a mexer nos relógios como parece que gostam de fazer, também não há outra preocupação: a de perceber que o ajustamento milenar do ritmo biológico humano ao ritmo da sucessão do dias e dos seus período de maior ou menor claridade ajuda a que tudo funcione melhor -- os dias e as noites são, na vida de todos os seres humanos, naturais e não acredito que tenha alguma vantagem serem artificialmente induzidos.
Na União Europeia (que sirva assim para algumas coisas mais práticas!) foi reequacionada a questão. Com sorte, a decisão de não mexer na hora poderá ser vinculativa.
Cá, a bosta de governo que temos prefere andar a brincar com a hora. É típico. É o entendimento que têm daquilo que, verdadeiramente, interessa a todos. Disso só conta o que lhes dá jeito. Porque, no que toca às vantagens pessoais que os seus caciques tiram das decisões políticas, nisso, são muito mais habilidosos e maleáveis.
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