Há três ou quatro anos, M. procurou-me para, basicamente, lhe dar uma opinião sobre um livro que acabara de escrever. Já tinha editado dois ou três antes, sempre "policiais" e até gostava do que eu escrevia.
Convidei-o a vir cá, levei-o a almoçar, ofereci-lhe um exemplar do meu livro mais recente e acedi a ler a história dele, a que por comodidade atribuo aqui o título de "XYZ".
É uma situação sempre ingrata e acho que foi em Lee Child (quando ainda era imaginativamente vivo e antes de ter sido "comido" por Tom Cruise) que li esta útil indicação: os autores não devem ler histórias alheias não publicadas porque, se escrevem algo parecido em que já tivessem pensado, podem ser acusados de plágio por quem lhes deu o original a ler.
Nem era o caso de "XYZ", que me esforcei por arranjar tempo para ler e que, à partida, nem seria impublicável. Seria necessário cortar pormenores e maneirismos dispensáveis e talvez personagens. Beneficiaria muito se algumas das suas partes fossem reescritas. Foi, com mais precisão, o que transmiti a M., já que queria saber o que eu pensava.
M. não voltou a manifestar-se. Até há pouco tempo, quando me contactou pelo Facebook, "pedindo-me amizade",
Numa troca de impressões posterior, e à distância, soube por M. que "XYZ" já estava publicado e que até ia sair mais outro. Numa editora de um comentador desportivo dedicada à poesia, pouco inspirada nas capas e situada naquela espécie de terra-de-ninguém obscura que parece viver de "edições de autor". Quanto a "XYZ", não lhe conheço o actual conteúdo nem sei se as minhas sugestões foram tidas em conta.
M., simpaticamente, reafirmou o seu apreço pelo que já escrevi e perguntou-me porque é que não continuava. Expliquei-lhe que o volume das vendas não era satisfatório para o investimento, quer do autor numa perspectiva profissional quer de um editor também profissional. Em réplica, M. disse que, para ele, já reformado, era tudo "na desportiva".
Sendo eu "desportivo" apenas no ginásio que regularmente frequento, desejei-lhe muitas felicidades.
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