quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Kruchtchev era "retundo" e "vocês" escreve-se "voçês" (4)


Em respostas que recebi, da editora Aletheia mas não do "Expresso", é posta a ênfase na excelência do tradutor deste livro ("Estaline - A Corte do Czar Vermelho"), como uma espécie de confirmação da impossibilidade do erro.
Mas os erros a que me referi ("súper", "retundo" e "voçês") até podem não ser responsabilidade directa do tradutor. Ponhamos a seguinte hipótese: as 170 páginas do volume I, onde eu detectei os erros e quando desisti de tentar ler a obra, podem nem ter sido traduzidas por ele. Foram confiadas, por hipótese, a outra pessoa. O resultado não foi examinado pelo tradutor. Não foi controlado pelo revisor. Não foi sequer verificado pelo editor.
Porque o(a) autor(a) da tradução dessas, pelo menos, 170 páginas pode conhecer inglês e saber traduzir de inglês para português. Mas faltam-lhe, depois, a capacidade e o conhecimento para verter o que traduziu na língua portuguesa, não como ela é falada mas como é escrita.
E este é o aspecto mais sério, depois de dezenas de frases que, na sua construção, são transferências directas de inglês para português (desde adjectivo-adjectivo-substantivo, em vez de substantivo-adjectivo-e-adjectivo a aplicações literais).
Não basta saber traduzir as palavras de uma língua para outra e é necessário saber construir a frase em português que melhor traduz a letra e o espírito do original.
Os três principais erros mostram a falta de contacto (e de conhecimento) do português escrito: "vocês" com "ç" porque o que se diz é que "vocês" se escreve com "c de cão", ou seja "quê" e portanto recorre-se ao "ç" para ter o som "cê"; "retundo" porque, pelo menos em Lisboa e arredores se pronuncia "retunda" em vez de "rotunda" (com o som "rutunda"); e "súper" porque quando dizemos "super" (em "supermercado" e em tudo o resto) estamos a acentuar o "u".





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