sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Vitórias e derrotas nas eleições presidenciais

Se o resultado definitivo das eleições presidenciais deste domingo vai depender dos votos dos eleitores, nesta fase final de uma campanha em que há dez candidatos é possível fazer previamente um apuramento das vitórias e derrotas. Ou, mais exactamente, da vitória e das derrotas e em termos políticos.
Porque, mesmo sendo as candidaturas individuais, as mais destacadas estão estribadas em intervenções políticas e partidárias e as outras, ditas independentes, estão naturalmente estribadas em projectos políticos de natureza pessoal e, mesmo num caso, com uma ambiciosa perspectiva partidária muito clara.
Poder-se-á dizer que esta abordagem é irrealista porque os votos não estão deitados nem contados mas, à luz das sondagens conhecidas e das regras comuns de experiência política, alguém duvida de que já existe um vencedor antecipado e que o protagonismo dos outros nove não é mais, onde não há “bluff” e a vontade é sincera, um simples “wishful thinking”?
 
Tino de Rans, Cândido Ferreira e Gonçalo Sequeira
 
Comecemos pela maioria e pelas três candidaturas unipessoais que muito provavelmente receberão o menor número de votos: Tino de Rans, calceteiro e presidente de uma junta de freguesia, Cândido Ferreira, médico, e Gonçalo Sequeira, psicólogo e/ou comercial, salvo erro.
Pensarão realmente estes três que têm alguma possibilidade de obterem um número suficiente de votos e uma percentagem significativa na distribuição dos votos para conseguirem vencer a eleição presidencial? Será que, no seu íntimo, algum destes candidatos é capaz de garantir às imagens reflectidas nos seus espelhos que vai ser mesmo presidente?
Tino de Rans deve conseguir notoriedade suficiente para se candidatar à presidência da sua câmara municipal, Cândido Ferreira talvez queira deixar esta marca no seu percurso para memória dos seus descendentes e Gonçalo Sequeira talvez confie que a sua notoriedade lhe dê mais clientes.´
A sondagem que na semana passada saiu no “Expresso” dá a cada um deles 0,2 por cento dos votos. Se este número, ou aproximado, se confirmar, e apesar de todas as suas intenções, ganharão uma pesada derrota. Mas o tempo de antena que conseguiram obter deve compensá-los, psicologicamente.

 
Marisa Matias, Edgar Silva, Paulo de Morais e Henrique Neto

 
Há mais quatro derrotados óbvios e a derrota de dois deles estende-se aos dos próprios partidos de cujas entranhas, digam o que disseram quanto à sua categoria unipessoal, saíram.
Nas eleições legislativas de Outubro do ano passado, o BE e o PCP tiveram, respectivamente, 550 945 votos e 10,19 por cento e 445 901 votos e 8,25 por cento. Esta sondagem a que nos referimos dá a Marisa Matias (BE) uma percentagem de 4,8 por cento e a Edgar Silva (PCP) uma percentagem de 4 por cento.
Argumentar-se-á, como sempre, que “as sondagens valem o que valem” mas há três factos iniludíveis: (a) se os resultados dos candidatos do BE e do PCP nestas eleições forem inferiores aos das legislativas, terão sofrido uma primeira derrota em termos muito simplesmente factuais; (b) a derrota será sempre mais pesada quando se atende ao facto de a apresentação destes candidatos ter visado a fixação dos eleitores dos dois partidos; e (c) ambos puseram como desígnio supremo das suas candidaturas impedir a eleição do candidato “da direita”.
Numa lógica ainda partidária, mas numa perspectiva de formação de um partido a médio prazo com base numa eventual federação de movimentos independentes concorrentes às eleições autárquicas, encontra-se ainda Paulo de Morais. Com um discurso paupérrimo, este candidato apostou na demagogia e na criação de uma imagem de caudilho messiânico. Esta sondagem dá-lhe 1,6 por cento. Com o seu triunfalismo tão espampanante como o seu penteado, Paulo de Morais só poderia cantar vitória se conseguisse obter uma percentagem superior a 10 por cento. Dificilmente o conseguirá. E a sua derrota também representará a derrota, por ter tentado federá-los, capturando os seus eleitores, dos movimentos independentes.
Henrique Neto, o empresário do PS que o PS renegou, ficará também entre os últimos lugares. Apresentou-se com um projecto de base individual, com uma campanha estruturada mas os seus potenciais eleitores (à direita e à esquerda) poderão preferir os seus candidatos “naturais”. A sondagem do “Expresso” dá-lhe 1,1 por cento. O resultado não deve ser muito melhor.

 
Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém e o PS

O PS é e será o grande derrotado destas eleições presidenciais e já o foi logo à partida.
Por um simples e básico motivo: o segundo maior partido do leque partidário português, o partido do actual governo (que conquistou por um golpe de Estado parlamentar) e o maior partido da “esquerda” não conseguiu ter um candidato único, nem tão pouco apresentar-se unido, contra o candidato único da “direita”.
Depois deste ponto de partida, tão trágico como caricato, a situação ainda se agravou. O PS “costista” cristalizou-se em torno de Sampaio da Nóvoa e a restante oposição interna apoiou Maria de Belém. E não se pouparam nas críticas.
O resultado não poderá deixar de ser obviamente mau: a sondagem que temos vindo a citar indica que Sampaio da Nóvoa terá 16,6 por cento dos votos e que Maria de Belém ficará com 16,3 por cento. Os resultados das legislativas de há três meses deram ao PS unido 1 174 730 votos e 32,33 por cento na repartição dos votos. Poderá haver quem diga, se os votos dos dois candidatos do PS ultrapassarem estes valores (o que só por hipótese se pode ter como provável), que o partido de Costa não sai derrotado das presidenciais. Mas sai. Basta, aliás, que nenhum dos seus candidatos não tenha conseguido chegar à Presidência da República.
Esta divisão, onde a “nomenklatura” costista disfarça mal o apoio e o incentivo do seu secretário-geral a Sampaio da Nóvoa, vai ter consequências internas.
A oposição (ou oposições) ao actual secretário-geral e primeiro-ministro não se tem dado a muitas ousadias desde o golpe de Estado parlamentar e, salvo se houver uma crise que ponha em causa o governo “das esquerdas”, vai esperar por uma melhor oportunidade para contar espingardas e voltá-las contra Costa. Se não forem dizimados na “guerra fria” que deverá seguir-se, hão de apresentar-se um dia a combate.
A divisão Sampaio da Nóvoa/Maria de Belém é, apenas, uma das munições que serão utilizadas num partido que demonstrou, no assalto ao poder, que já não respeita os valores da democracia.
Estas eleições presidenciais só são boas para o PS se o conseguirem trazer, mesmo que num processo conturbado, para o seio da democracia.
 Marcelo Rebelo de Sousa
 
 Marcelo Rebelo de Sousa conta nestas eleições presidenciais com uma vitória prévia que, com mais ou menos votos, ninguém lhe tira: uma candidatura claramente independente, movida e mantida pelo próprio que desde o seu início e até à véspera da votação surge sempre como ganhadora à primeira volta.
O que dá maior peso a essa vitória pessoal são três pormenores reveladores: por um lado, esteve no terreno quase sem contar com os aparelhos dos partidos que, em termos eleitorais, são a sua base “natural”; por outro lado, pôs todos os restantes candidatos partidarizados a criticarem-no praticamente todos os dias (as críticas generalizadas, algumas vezes demagógicas, devem ter contribuído mais para a sua notoriedade e para o vitimizarem do que para lhe retirarem votantes); e, finalmente, criou o deserto à sua volta – não apareceu mais nenhum candidato “da direita” ou “do centro-direita” (a imprensa nunca se entendeu nesta classificação taxinómica).
Todas as sondagens, todas elas, dão Marcelo Rebelo de Sousa como eleito logo à 1.ª volta ou, na pior das hipóteses, eleito à 2.ª volta.
Mesmo numa 2.ª volta, não se vê como o número dos eleitores dos restantes nove, e mais os “zombies” que poderão despertar nessa altura, pode sobrepor-se aos votantes iniciais de Marcelo e aos que compreendam qual o mal menor.
Vitorioso em toda esta fase inicial, Marcelo Rebelo de Sousa, a ganhar as eleições, e não apenas por ser esse o seu ambiente político, dará também uma vitória ao PSD, ao CDS e a todos os cidadãos que, tendo ou não votado nestes partidos em Outubro, receiam (e com razão) o abismo financeiro e económico para onde o actual governo do golpismo parlamentar nos empurra.
Precisamos todos (mesmo os que não querem votar em Marcelo Rebelo de Sousa) de um pouco de bom senso e de racionalismo político e constitucional na Presidência da República e não de mais flibusteiros.
Se Marcelo Rebelo de Sousa ganhar as eleições presidenciais, a sua vitória é também a nossa e a do País.
 
 
 
 

 

 

 

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